Vou te quebrar essa sua cara aí

Feche todas as abas do seu Firefox, cancele aquela torrent da discografia do Black Sabbath e peça para seus contatos do MSN esperarem uns minutinhos, porque agora você vai ler algo que perturba as mentes mais imperturbáveis do mundo.

Qual o problema de se corrigir alguém?

Aconteceu comigo uns dias atrás, mas não tive tempo de pensar no assunto. Um colega de trabalho comete erros absurdos de português enquanto fala ou escreve sua coluna. Na melhor das intenções, às vezes é necessário mudar algumas palavras ou para dar um entendimento melhor ao texto – o leitor não tem obrigação de conhecer todos os termos aplicados pelo escritor, logo ele não pode sair escrevendo tudo o que der na telha. Então, pra fazer o trabalho mais rápido, não posso ficar avisando que estou mudando tal expressão, corrigindo tal palavra, colocando aqui e ali uma letra maiúscula, um acento. É desnecessário avisar porque ele está ali, do meu lado, supervisionando meu trabalho contra a minha vontade.

Onde eu quero chegar com isso? É que, depois de ser corrigido várias vezes, ele se sentiu ofendido. “O jeito que você me corrige me ofende, me faz sentir ignorante”.

É aí que eu digo que ser ignorante é opcional. Se um cara simplesmente não gosta de ler, não estuda porque é um saco, prefere bater aquela bolinha ou assistir televisão a tarde toda, é opção do mesmo. Se você chegar e dizer “olha, estudar é bom porque vai fazer de você uma pessoa melhor”, você está sendo arrogante e intrometida, porque a vida é dele e ele faz o que quiser. Me corrija se estiver errado.

Hoje mesmo fui fotografar um evento do Dia da Criança na praça central da cidade. Muitas crianças estavam lá, brincando e se divertindo – o que é seu direito, óbvio – e notava-se sem dispor de qualquer sentimento elitista, que a grande maioria era de origem pobre, provavelmente moradores da periferia. Tudo bem, não tem nada de errado em morar na periferia, muitos simplesmente não têm onde morar. O que me tocou foi o jeito que as meninas, principalmente, se portavam.

Na verdade, um grupinho de umas 5 meninas me chamou a atenção. Elas estavam na fila para a cama elástica, um dos brinquedos disponíveis, e formaram uma quadrilha mirim que revezava no brinquedo. Duas saíam, duas entravam, nunca dando espaço para as outras crianças. Uma delas foi reclamar e foi tratada dessa maneira:

– Para de furar fila aí sua biscate, senão te quebro essa sua cara aí.

Cara, são crianças de, sei lá, uns nove anos! Se minha filha se portasse assim nessa idade, iria pra um colégio de freiras pro resto de sua existência.

– Mas tá, e daí. Tava vendo ali em cima e me perguntando o que isso tem a ver com o propósito desse texto.

Essas crianças têm que se basear em alguém, têm que aprender com alguém. Provavelmente, as mães dessas meninas se portam da mesma forma – senão pior, daquelas que ficam na rua falando mal do namorado da outra que não cumprimenta quando passa, até que a outra pensa que ela tá dando em cima da namorada e cria um daqueles barracos gostosos de ver, onde cada uma fica de um lado da rua gritando expressões como “biscate, galinha, vagabunda, vou te quebrar essa sua cara aí”.

Outra tese é que elas aprenderam com o Programa do Ratinho, mas naquelas.

Se por acaso você chegasse pra mãe daquela menina e falasse “olha, sua filha está se comportando mal, que tal educá-la com mais atenção”, você também receberia um “ah vá sua vagabunda, vai cuidar da sua vida, senão vou te quebrar essa sua cara aí”.

Corrigir alguém não é querer dar uma de gostoso, é querer o bem. Se não houvessem erros, você não aprenderia a andar de bicicleta nunca, mas jamais o faria senão da maneira correta.

E eu sou a gracinha da Paulinha :rs:

Autor: Raphs

Fisicamente, três anos a menos. Mentalmente, sessenta anos a mais.

20 comentários em “Vou te quebrar essa sua cara aí”

  1. Gostei do marcus.

    Mas hein, cara, problema de corrigir é que ao fazer você massageia seu ego diminuindo os outros. Na hora que você corrige alguém, você:

    1. demonstra conhecer mais do assunto, fazendo te parecer mais inteligente
    2. mostra que o cara conhece menos do assunto que ele próprio tentava falar, fazendo ele parecer um idiota
    3. faz questão de falar na cara do maluco isso, fazendo você parecer arrogante

    É escroto. Eu até gosto da correção, mas 99% das vezes me deixa bolado porque o cara parece se sentir o espertão quando te corrige.

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  2. Kelb, você é pago semanalmente pra discordar do que eu falo aqui, então não tá fazendo mais que sua obrigação.

    É ÓBVIO que o tipo de “correção” que eu me referia não era tipo HAHA BURRÃO OLHA HUAHUA O CERTO É XXXXXXX UHAHUA Q BURRO MELDEUS OLHA ISSO GENTE, mas falar na boa, daquele jeitinho suave e tal.

    Mesmo porque se tu não fizer isso ele vai continuar errando, errando, errando, o que parece ser mais legal do que falar certinho.

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  3. Esso aê!! Tem mais é que corrigir mesmo! Porém há formas e formas para isso. Nada de escrachar o cidadão com um “Ah, que burro! Dá zero pra ele!”. O importante é a intensão da correção, ou seja, com o propósito de mostrar o erro e não de se enaltecer diante da ignorância alheia.
    Daí o sujeito tem o livre arbítrio de escolher se permanece no erro ou não.

    Flw

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  4. Se você chegar e DIZER “olha, estudar é bom porque vai fazer de você uma pessoa melhor”, você está sendo arrogante e intrometida, porque a vida é dele e ele faz o que quiser. ME CORRIJA SE ESTIVER ERRADO.

    ***

    HAHA BURRÃO OLHA HUAHUA O CERTO É DISSER UHAHUA Q BURRO MELDEUS OLHA ISSO GENTE

    foi só pra zoar oquei

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  5. Raphael seu ignorante, você criticando a nobre opinião do cidadão Marcus disse: “Ó marcus sua biscate, vou te quebrar essa sua cara aew”.

    Pois bem a frase seria grafada corretamente assim: “OH, Marcus, SEU biscateiro, vou te quebrar essa sua cara aí!”.

    Vamos lá: é Oh e não “Ó”; Marcus por se tratar de nome próprio se escreve sempre com a inicial maiúscula. Marcus pressupõem o gênero masculino, portanto, jamais poderia ser UMA biscate. Além disso, biscate é um pequeno serviço, um “bico”, portanto, Marcus somente poderia ser um biscateiro, ou seja, alguém que presta pequenos serviços. E por fim, não existe a palavra “aew”, mas aí.

    Entendeu, sua ignorante?

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  6. “Pois bem a frase seria grafada corretamente assim: ‘OH, Marcus, SEU biscateiro, vou te quebrar essa sua cara aí!’.”

    Não entendi. O jornal estadão manda colocar “ó” quando for parte do vocativo, como: “Veja, ó incrédulo”. E “oh”, quando for interjeição de espanto, admiração, etc.: “Oh! Não o encontrei mais ali!”

    Mas, sinceramente, tem coisa que parece até pedantismo ficar corrigindo.

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