O Brasil não é um país sério

Le Brésil, ce n’est pas un pays serieux

Essa frase é atribuída, erroneamente, ao general Charles de Gaulle, ex-presidente francês à época da Guerra da Lagosta – uma guerra idiota onde dois países quase chegaram às vias de fato por causa de, sim, lagostas.

De Gaulle tinha razão. O Brasil não é um país sério.

brasil um pais de merda

Eu não sei nem por onde começar a xingar esse bando de canalhas.

Não me refiro aos jogadores – aliás, à eles todos os méritos e meus parabéns pelos cinco títulos mundiais. Me refiro aos MORFÉTICOS que decidiram premiar JOGADORES DE FUTEBOL da metade do século passado com dinheiro suficiente pra construir DEZENAS DE ESCOLAS.

— Pô, mas eles merecem.

Eu entendo que é importante preservar a memória de quem colocou o nome do Brasil lá no alto pro mundo inteiro. Esses caras MERECEM homenagens pro resto de suas vidas e muito além disso. Entendo também que é justo oferecer auxílio aos campeões mundiais com mais de oitenta anos, afinal eles são praticamente parte da história do país.

Mas oferecer 100 mil reais a um bando de nego que jogou bola no século passado?

A eterna gratidão de 200 milhões de brasileiros não é o bastante? O respeito de sete bilhões de terráqueos àquela camisa amarela se deve a ESSES CARAS, e o governo vem querer mostrar gratidão através de DINHEIRO?

Sabe o que jogador de futebol faz com dinheiro? O FILHO DA PUTA COMPRA CARRO. PAGA PUTA. FAZ CHURRASCO. 

Sabe, o Brasil é um país que quase não tem problema, né?

A gloriosa República do Azerbaijão tem um IDH maior que o nosso. Nosso desempenho nas Olimpíadas de Matemática mundo afora é absolutamente medíocre.  A renda no país é tão bem distribuída quanto as azeitonas na sua pizza feita às pressas num restaurante sábado a noite. Tudo de um lado só.

Sabe qual o salário do professor de escola pública? Ridiculamente pouco. Tão pouco que eles são forçados a dar aula em duas, três escolas e em três horários diferentes pra conseguir fechar uma renda decente pra se sustentar. Isso é surreal, é desumano.

Jogar tanto dinheiro pela janela nos dá a impressão de que o Brasil é um país que não liga. Enquanto tem Copa e Olimpíada, pode pegar fogo em TODAS as escolas do país que tá tudo bem!

campeoes

Aí o cara do contra vem e diz:

— Se essa verba foi liberada pro Esporte, ela não pode ir pra outra coisa.

É pra falar de esporte? Porra, então vamos falar de esporte.

Se a verba é pro esporte, GASTA DIREITO ESSA MERDA. Ao invés de investir nos esportes onde o Brasil já tem destaque, investe em outros! A gente já mostrou que pode ser potência em uma CARALHADA de esportes, de tênis a ginástica artística. Porque só futebol tem privilégio nessa merda de país?

Porra, usa esse dinheiro pra construir educar através do esporte. Criem eventos que incentivam os jovens a praticar esportes diferentes. Deem condições pra que o moleque que é vapor no tráfico troque a metralhadora por uma raquete de tênis.

Até quando Skate e BMX vão ser esportes marginais? Policial não pode ver um nego andando de skate que sai descendo o porrete e o gás de pimenta. Dá até raiva ligar a televisão no domingo de manhã e ver skate e patins sendo mostrados como esportes de outro mundo, chamados de “esportes radicais”.

Sabe porquê? Porque ninguém sabe que esses esportes existem.

Culpa do governo? É, em partes. Mas grande parte é culpa do povo.

Essa merda de país valoriza mais um par de chuteiras do que condição de vida pro povo pobre. E sabe porque? Porque pobre burro é pobre feliz. Enquanto tem futebol na desgraça da televisão, o pobre pouco se fode pra nota de matemática do filho.

E o filho, vendo o Neymar fazendo macaquice na televisão, quer fazer igual. Criança pobre não quer ser engenheiro, não quer ser advogado (ainda bem), médico ou professor. Criança pobre quer ser o Neymar.

O ministro Aldo Rebelo encerra a reportagem dizendo o seguinte:

– É muito pouco. Esse é um gesto de dignidade do país. A sociedade que não sabe reconhecer seus filhos mais importantes, que elevaram o nome da pátria, perde a dignidade. Que o Brasil nunca se esqueça.

O Brasil é um país tão de merda que “seus filhos mais importantes” são jogadores de futebol. Fodam-se os professores. Fodam-se os outros esportistas que já ganharam qualquer coisa nesse país.

Esportista vive de dinheiro sim, mas também vive de honra. Nada deixaria um campeão olímpico mais feliz do que ver seu esporte sendo valorizado. Ver que o precedente que ele criou, serviu de alguma coisa. Não se vê isso no Brasil. Os nossos campeões olímpicos sempre são tratados como “gratas surpresas”, como se suas vitórias fossem acidentes.

Dar esse prêmio não é um gesto de dignidade. Dignidade seria pegar esse dinheiro e fazer algo decente com ele. Isso é uma falta de respeito com TODOS os esportistas, profissionais e qualquer pessoa que acha que esse país tem conserto.

Não tem.

O Brasil não é apenas um país que não quer ser levado a sério. Também é um baita de um filho da puta ingrato.

Autor: Raphs

Fisicamente, três anos a menos. Mentalmente, sessenta anos a mais.

5 comentários em “O Brasil não é um país sério”

  1. É revoltante saber de determinadas coisas como estas, pois um país que valoriza e prioriza seus ensinamentos em um idolatrismo medíocre que é o futebol não sairá nunca do fim do ranking da educação. Não sou contra o futebol, pelo contrário, gosto de assistir aos jogos da seleção. No entanto como nosso amigo colocou em seu texto, enquanto nossas crianças visarem como profissão algo que não exige nenhum esforço mental, nosso país continuará na mesmice de pobreza. Me sinto ofendida quando percebo este descaso com a população brasileira, que é tão ignorante que é capaz de achar "linda" esta homenagem aos jogadores. Vamos abrir nossos olhos enquanto há tempo!

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