Limpando o computador e a consciência

Pare tudo o que você está fazendo e se prepare para ver algo que jamais foi feito aqui no Odeio e Justifico. Prepare-se para uma pequena aula de informática básica de primeira série.

Embora eu ache divertido fazer uns “do it yourself”, eu não sou muito de fazer esse tipo de conteúdo. Primeiro, porque tem muita gente melhor pra falar disso do que eu, e segundo, porque eu tenho as habilidades manuais de um tiranossauro.

Terceiro, porque dá trabalho pra caralho. Mas as fotos já tão aí, eu não acordei sábado de manhã à toa e eu gosto de pensar que sou um exemplo pra galera mais nova. Exemplo do que você não deve se tornar na vida, cara.

Ontem à noite eu estava jogando Dark Souls no computador. Não, jogando não, passando nervoso, querendo esmurrar uma criança de tanta raiva desse caralho de jogo maldito. Em meus vinte e quatro anos de vida, eu nunca passei tanta frustração com nada desse tipo. Tirando minha vida amorosa, mas isso já é um desastre anunciado.

Não bastasse as infinitas barreiras que um jogo que não perdoa sequer um tropeção já te coloca, fui apresentado a um novo desafio. Um velho inimigo que não me atormentava a muitos e muitos anos. A tela azul do Windows.

tela-azul

A famosa blue screen of death é o equivalente em informática de um ataque convulsivo: você às vezes não sabe o que causa, mas sabe que tem alguma coisa errada e isso vai dar merda um dia. Ainda mais se você tiver dirigindo, começar a tremer e babar, enfiar o carro no meio de um orfanato na hora da soneca.

Ou pior ainda, RESETAR O COMPUTADOR no MEIO da porra do PIOR MAPA do jogo, depois de matar um chefe fudido e a DOIS METROS de um dos (raríssimos) save points. GAAAAAAAAHHHHHH.

Ok Raphael, respira.

Bom, incomodado por ter perdido um puta pedaço do jogo, fui dormir. Acordei hoje, sábado, sete da manhã pra ver se resolvia esse problema. Liguei a criança e reparei que a temperatura tava beirando os 70°C, o que não é lá muito comum pro meu bebê. É um computador de três anos atrás, com peças novas. É como um idoso com armadura do Homem de Ferro que já não controla seu esfíncter.

Resolvi então abrir o bicho. Aí, meu amigo…

foto 2
PORQUE SERÁ QUE TAVA DANDO PAU, NÉ?

Isso aí é o dissipador do cooler do processador, mas você pode chamar de “virilha da sua tia Lourdes” de tanta poeira. Se você nasceu ontem e não sabe qual a função disso, é um conjunto de aletas que realizam a troca de calor entre o processador e o ar. O ventilador que vai em cima se encarrega de arrastar o ar quente de dentro pra fora.

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AINDA NÃO CONSIGO VER O PROBLEMA

Essa é a placa de vídeo, e no destaque você vê o que parece ser o sistema de resfriamento dela. Caso você tenha batido a cabeça e esquecido o que eu acabei de falar, essas chapinhas são as aletas e o ventilador é o cooler (ou fan), responsável pela troca de calor entre as aletas e o ar.

O problema da tela azul provavelmente veio disso. Eu quase montei outro gato só com o tanto de pêlos que saíram do cooler. O problema mais sério, no entanto, não é o ventilador. A poeira que se deposita nas aletas cria uma camada isolante, que não troca tanto calor com o meio. Ou seja, o alumínio das aletas esquenta MAIS e esfria MENOS. SOUNDS GREAT.

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O QUE SERÁ QUE DEU ERRADO?

Isso aí era pra ser a exaustão da fonte, o coração do computador. Não preciso dizer que essa parte é importante pra cacete, pois o ar quente produzido dentro do PC é menos denso – e seu professor da terceira série ensinou que o ar quente é menos denso e sobe. Então, grande parte (ou a maior parte) do ar quente de dentro do computador sai por essa região. Só que… como que algo vai sair se tá tudo tampado com poeira?

Com um “pincel novo, limpo e seco”, que eu traduzi como “o primeiro pincel que eu encontrei em casa”, comecei a limpar toda essa poeira das peças, devidamente desmontadas. Eu não sou nenhum mão de moça pra mexer com eletrônicos, afinal sei que os componentes são de qualidade e resistentes a pinceladas. Mas também não sou imbecil de enfiar uma chave de fenda numa placa mãe.

No fim da limpeza, ficou parecido com isso:

poeira
tem tanto pó no meu nariz que eu posso conseguir emprego de extintor de incêndio

E lembra que eu disse que a temperatura do computador estava batendo os 70°C? Então:

pc chubiruba

O computador está ligado, com vários programas pesados, a quase duas horas. Não preciso dizer que a diferença é absurda, tanto na temperatura quanto no barulho que ele está fazendo.

Antes, ao ligar o computador, parecia que eu estava passando uma criança birrenta por um moedor de carne. Um barulho absurdo que só parava vários minutos depois de ligado. Agora, ele liga com a suavidade de um bebê atingido por um dardo tranquilizante de uma zarabatana indígena.

Eu posso até dizer que ele está ligeiramente mais rápido.

Eu tenho um bom retrospecto com eletrônicos. Eu nunca quebrei um celular ou sequer um controle de videogame, e olha que já tive vários (só Xbox360 já foram três). Não é segredo – é só cuidar que as coisas duram.

Computadores não têm segredo nenhum. Fazer manutenção em computador é quase como fazer um exame de próstata: é só você saber onde e como enfiar o dedo que o cara até agradece depois. Não é preciso esforço algum, não custa absolutamente nada e evita que tu gaste um puta dinheiro com algo que tu já tinha.

E o melhor: evita que você pague um dinheiro fudido pra que um moleque de dezessete anos faça “manutenção preventiva” no seu computador naquelas lojas de informática de quintal. Você paga cinquenta malandros pro cara bater um ar comprimido no seu PC e ele ainda ganha todas as fotos que você tem no computador – inclusive aquelas da sua namorada de biquíni naquele presente que ela te mandou no dia dos namorados de 2005 – e depois mandar por e-mail pros mlk com título de CAIU NA NET.

— Cara, isso foi MUITO específico.

Ahnnn errrr aconteceu com um… primo… meu?

Então que tal você sair dessa merda de twitter, fechar teu facebook e ir limpar essa merda de computador antes que ele queime e você venha encher o meu saco?

Enquanto isso, volto a passar nervoso com Dark Souls. Caralho, como eu odeio esse jogo.

 

O Brasil não é um país sério

Le Brésil, ce n’est pas un pays serieux

Essa frase é atribuída, erroneamente, ao general Charles de Gaulle, ex-presidente francês à época da Guerra da Lagosta – uma guerra idiota onde dois países quase chegaram às vias de fato por causa de, sim, lagostas.

De Gaulle tinha razão. O Brasil não é um país sério.

brasil um pais de merda

Eu não sei nem por onde começar a xingar esse bando de canalhas.

Não me refiro aos jogadores – aliás, à eles todos os méritos e meus parabéns pelos cinco títulos mundiais. Me refiro aos MORFÉTICOS que decidiram premiar JOGADORES DE FUTEBOL da metade do século passado com dinheiro suficiente pra construir DEZENAS DE ESCOLAS.

— Pô, mas eles merecem.

Eu entendo que é importante preservar a memória de quem colocou o nome do Brasil lá no alto pro mundo inteiro. Esses caras MERECEM homenagens pro resto de suas vidas e muito além disso. Entendo também que é justo oferecer auxílio aos campeões mundiais com mais de oitenta anos, afinal eles são praticamente parte da história do país.

Mas oferecer 100 mil reais a um bando de nego que jogou bola no século passado?

A eterna gratidão de 200 milhões de brasileiros não é o bastante? O respeito de sete bilhões de terráqueos àquela camisa amarela se deve a ESSES CARAS, e o governo vem querer mostrar gratidão através de DINHEIRO?

Sabe o que jogador de futebol faz com dinheiro? O FILHO DA PUTA COMPRA CARRO. PAGA PUTA. FAZ CHURRASCO. 

Sabe, o Brasil é um país que quase não tem problema, né?

A gloriosa República do Azerbaijão tem um IDH maior que o nosso. Nosso desempenho nas Olimpíadas de Matemática mundo afora é absolutamente medíocre.  A renda no país é tão bem distribuída quanto as azeitonas na sua pizza feita às pressas num restaurante sábado a noite. Tudo de um lado só.

Sabe qual o salário do professor de escola pública? Ridiculamente pouco. Tão pouco que eles são forçados a dar aula em duas, três escolas e em três horários diferentes pra conseguir fechar uma renda decente pra se sustentar. Isso é surreal, é desumano.

Jogar tanto dinheiro pela janela nos dá a impressão de que o Brasil é um país que não liga. Enquanto tem Copa e Olimpíada, pode pegar fogo em TODAS as escolas do país que tá tudo bem!

campeoes

Aí o cara do contra vem e diz:

— Se essa verba foi liberada pro Esporte, ela não pode ir pra outra coisa.

É pra falar de esporte? Porra, então vamos falar de esporte.

Se a verba é pro esporte, GASTA DIREITO ESSA MERDA. Ao invés de investir nos esportes onde o Brasil já tem destaque, investe em outros! A gente já mostrou que pode ser potência em uma CARALHADA de esportes, de tênis a ginástica artística. Porque só futebol tem privilégio nessa merda de país?

Porra, usa esse dinheiro pra construir educar através do esporte. Criem eventos que incentivam os jovens a praticar esportes diferentes. Deem condições pra que o moleque que é vapor no tráfico troque a metralhadora por uma raquete de tênis.

Até quando Skate e BMX vão ser esportes marginais? Policial não pode ver um nego andando de skate que sai descendo o porrete e o gás de pimenta. Dá até raiva ligar a televisão no domingo de manhã e ver skate e patins sendo mostrados como esportes de outro mundo, chamados de “esportes radicais”.

Sabe porquê? Porque ninguém sabe que esses esportes existem.

Culpa do governo? É, em partes. Mas grande parte é culpa do povo.

Essa merda de país valoriza mais um par de chuteiras do que condição de vida pro povo pobre. E sabe porque? Porque pobre burro é pobre feliz. Enquanto tem futebol na desgraça da televisão, o pobre pouco se fode pra nota de matemática do filho.

E o filho, vendo o Neymar fazendo macaquice na televisão, quer fazer igual. Criança pobre não quer ser engenheiro, não quer ser advogado (ainda bem), médico ou professor. Criança pobre quer ser o Neymar.

O ministro Aldo Rebelo encerra a reportagem dizendo o seguinte:

– É muito pouco. Esse é um gesto de dignidade do país. A sociedade que não sabe reconhecer seus filhos mais importantes, que elevaram o nome da pátria, perde a dignidade. Que o Brasil nunca se esqueça.

O Brasil é um país tão de merda que “seus filhos mais importantes” são jogadores de futebol. Fodam-se os professores. Fodam-se os outros esportistas que já ganharam qualquer coisa nesse país.

Esportista vive de dinheiro sim, mas também vive de honra. Nada deixaria um campeão olímpico mais feliz do que ver seu esporte sendo valorizado. Ver que o precedente que ele criou, serviu de alguma coisa. Não se vê isso no Brasil. Os nossos campeões olímpicos sempre são tratados como “gratas surpresas”, como se suas vitórias fossem acidentes.

Dar esse prêmio não é um gesto de dignidade. Dignidade seria pegar esse dinheiro e fazer algo decente com ele. Isso é uma falta de respeito com TODOS os esportistas, profissionais e qualquer pessoa que acha que esse país tem conserto.

Não tem.

O Brasil não é apenas um país que não quer ser levado a sério. Também é um baita de um filho da puta ingrato.

O menor conto de ficção já escrito

Marquinhos andava pela rua e tropeçou em algo. Deu dois passos atrás, abaixou-se e recolheu o que parecia ser uma lâmpada mágica. Instintivamente, esfregou o artefato e se assustou com o gênio que de lá saiu.

— Posso lhe conceder um desejo, qualquer que seja.

— Eu quero ser Deus.

— Pois bem.

O gênio fez um gesto e Marquinhos desapareceu. Ninguém, nunca mais, viu ou ouviu falar de Marquinhos novamente.

O dia do cortador de cana

Adolescência. Época de ouro onde cometemos os erros que, em poucos anos, serão causa de arrependimento eterno. Tempos em que fazemos tanta merda que, em suma, se torna a melhor época das nossas vidas. É aqui que começamos a jogar a culpa de tudo nos hormônios.

Essa tormenta de hormônios é responsável por uma maré de eventos. O crescimento anormal de pêlos, o suor excessivo e o descontrole vocal nos meninos, o desenvolvimento dos monumentos femininos à altura do tórax e aquela condição bizarra em que o corpo das meninas pensa “ei, agora que estou extremamente atrativa aos olhos masculinos, acho que é uma boa hora de sangrar descontroladamente por dias e dias”…

Somado a tudo isso, existe o fator BABAQUICE. Existem certas coisas na vida que se provam verdades absolutas com o tempo. O fato de todo adolescente ser babaca, por exemplo.

Não existe uma pessoa sequer neste mundo perturbado que não tenha sido um adolescente babaca. Você foi, seu pai foi e seus filhos serão também. Até Jesus deve ter sido m adolescente babaca e chutado placas de trânsito em algum momento entre 0 e 16 d.C. Aliás, nossos filhos serão babaquinhas ainda mais cedo, afinal tudo é tão precoce hoje em dia que criança nasce pagando imposto de renda.

É injustiça dizer que o fator babaquice é relacionado com o meio em que a criança cresce. Pode ter sido criado com todo o amor de uma família de classe média, ou vendido pela mãe ainda infanto por algumas pedras de crack. Todos nós um dia fomos babaquinhas arrogantes que acham que o mundo é nosso umbigo.

Já disse aqui uma vez que eu fui um adolescente babaca, mas nunca disse quando foi que me dei conta do que estava fazendo.

O ano era 2005. Eu estava curtindo meus primeiros meses de trabalho como digitador em um jornal local. O trabalho era simples, com muito tempo vago, inclusive tempo vago suficiente para criar este blog, mas com atribuições inusitadas.

Na verdade, eu passava mais tempo fazendo coisas extras do que fazendo meu trabalho (o qual executava de forma magistral, deus, como eu era bom naquilo). De office boy a técnico em informatica, de quebra galho a designer, fazia de tudo um pouco. Inclusive manter a barriga do pessoal alimentada, mas chegaremos nisso mais tarde.

O lance é que toda sexta feira trabalhavamos até mais tarde, as vezes até a madrugada. Isso, obviamente, obrigava-nos a fazer uma refeição.

A “refeição” era um ritual semanal onde cada funcionário podia escolher entre dois e três salgados, desses que colecionam moscas dentro daquela estufa horrorosa no boteco mais próximo da sua casa. Eu era o encarregado de anotar os pedidos e buscar comida, como a mãe leoa que anota o pedido dos filhos e vai buscar alimento em uma manada de zebras que passa por ali.

Nessa época, eu era um adolescente retardado que achava que ser roqueiro era se vestir de preto, usar correntes e calcas rasgadas. Por isso, eu só usava preto, correntes e calças rasgadas, afinal eu precisava mostrar pra todo mundo que meu gosto musical era esse. Todos precisava saber.

O negócio é que o clima no interior paulista não colabora com isso. Temperaturas abaixo de 30 °C são temidas e causam problemas sérios de saúde pública, como o cheiro de naftalina e mofo que cobre a cidade pois todos os agasalhos foram forçados de seus confinamentos eternos no fundo do armário.

Neste dia, em especial, fazia frio. Pra proteger-me do congelante frio de 26 graus de Sertãozinho, eu vestia por baixo de uma camiseta do Legião Urbana outra camisa, uma cinza extremamente fuleira, de mangas longas.

Na lanchonete, eu sempre demorava uns 10 minutos pra completar o pedido, já que 20 salgados não eram coisa rápida de se arrumar. Enquanto esperava, ouvi uns caras dando risada, mas que faziam de tudo pra disfarçar o que diziam – sinal clássico de que estavam falando de alguém, ou de mim.

Eu não me incomodei. Esperei minha comida pacientemente, até que ouvi a expressão “bóia fria” vindo dos mesmos caras que estavam rindo da outra vez.

Pra você que caiu do berço quando criança, “bóia fria” é como são conhecidos os trabalhadores de lavoura, que se vestem de forma parecida com esta:

Ai fiquei incomodado. Eu não estava fazendo nada a eles, na verdade nem cheguei a olhar pra eles por um segundo sequer. Mas sabe aqueles momentos da vida em que a ficha cai de forma tão violenta que o tempo para e você filosofa sobre toda a historia do universo em um segundo?

Depois de ouvir a expressão “bóia fria“, eu percebi sobre o que estavam falando e rindo. Olhei pra mim e vi um tenis batido, uma calça jeans rasgada, uma camiseta de manga comprida e um boné bastante danificado escondendo cabelos mal cuidados.

Eu, sem perceber, havia me tornado um bóia fria.

Na minha vontade adolescente babaca de mostrar pra todo mundo como eu era hardcore e desapegado, eu virei motivo de piada. E de certa forma, sou grato a esses caras, pois sem eles eu jamais perceberia o quão escrotamente me comportava.

Arrependimentos existem pois eles nos fazem aprender lições. Seja apanhando de um gordo na escola ou sendo chamado de bóia fria por desconhecidos, eu me arrependo de trilhões de coisas feita no intervalo de 2000 a 2004 – o período de minha vida onde eu não tinha referência alguma do que fazer.

Eu dizia ser grunge, e queria me vestir daquela forma. Na tentativa de ser diferente, eu acabei me tornando igual uma tribo inteira. Isso era 2005, e esse mesmo universo se mantém igual. Hoje saio na rua e ainda vejo pessoas diferentes sendo iguais. Tribos de góticos, tribos de malandritos, tribos de roqueiros, tribos de sertanejos universitários. Gente igual pra todo lado.

Pensado nisso, veio a realização: todos os que esforçam em ser diferentes sao iguais.

Cabelos compridos já foram sinal de rebeldia. Tatuagens, meu deus, tatuagens já foram o sinal na terra de que o demônio esta tomando conta da civilização. Quinze anos atrás, um cara de cabelo comprido e um símbolo japonês no braço era o maluco mais hardcore da região.

Hoje, até sua prima de 12 anos tem tatuagem.

Daqui quinze anos, a moda vai ser implantar assentos de privada na espinha dorsal. Esses caras vão ser os mais hardcore da região.

A única certeza é de que um dia eles vão se arrepender de colocar a própria personalidade de lado pra obedecer as regras de certas modinhas ou tribos, só para serem aceitos. Um dia, o arrependimento bate. Um dia eles vão ouvir conversa numa lanchonete.

Nisso fica uma certa lição, pelo menos pra mim. Em um mundo em que ser diferente é ser igual, a única forma de ser realmente diferente é ser normal. O normal nunca sai de moda.

E você,  já garantiu seu assento de privada?

Férias em Acapulco

Venho através deste informar que teremos mais posts neste blogos dentro de alguns dias.

Estamos em período de provas e tenho que fingir que tenho uma vida real senão fica ruim pra mim né mano.

Enquanto isso,fiquem com uma piada muito engraçada.

Havia um ovo e uma salsicha em uma frigideira.

O ovo vira pra salsicha e diz:

– Nossa, está quente aqui, não?

E a salsicha:

– AAAAAAHHH SOCORRO UM OVO FALANTE!!!!!!

Mais um pouco sobre o que aconteceu comigo e tal

A grande parte dos meus leitores são pessoas misteriosas, que sempre estão presentes mas não se manifestam por motivo algum. De um tempo pra cá, vocês se tornaram um mistério para mim. Sei quantos são, mas não sei quem são.

O post anterior teve uma reação interessante. Embora não tenha dado a repercussão esperada no próprio blog (os comentários ficaram vazios por dias), pessoas que não conheço ou que quase nunca converso, resolveram falar comigo a respeito do que leram, comentando sobre o texto pessoalmente.

Talvez porque seja meio difícil assumir que se está jogando a vida fora, ou que se comporta exatamente como eu disse naquele texto. É recompensador ser reconhecido pelo que faz (ou escreve), mas muito melhor é a sensação de que o que você disse foi assimilado por outras pessoas. Nunca quis ser “formador de opinião”, mas se eu fiz uma pessoa repensar suas atitudes, já ganhei a vida.

“Mas o que aconteceu, afinal?”

No texto, eu disse que foi preciso que um carro atravessasse meu caminho pra eu repensar grande parte da minha vida. Não dei muitos detalhes até então, pois deixo o blog um pouco impessoal justamente para ter esse “espaço” entre o cara que escreve e o cara que vive. Depois de seis anos, essa separação acaba sendo necessária.

Tenho certeza de que alguém que está lendo este texto já passou por isso, mas a grande maioria, não. Então, vamos à pergunta:

Você sabe o que acontece em um acidente de moto?

Parece um pão francês, só que mofado

Isto acontece. Por menor que seja o impacto, quando você dirige um veículo cuja natureza é cair, o resultado de qualquer coisa tem reflexos bastante negativos em você.

Indo para o trabalho, acertei exatamente na junção das portas de um Gol prata, que não havia respeitado a sinalização enorme de PARE no meio da rua. O curioso é que eu lembro do impacto com tantos detalhes que sou capaz de recordar o que pensei no momento: “Puta que pariu, vou bater de novo?*”.

*Digo “de novo” porque, em 2009, passei pela mesma situação. Só que daquela vez fui atingido por um ônibus e eu não sofri absolutamente nada.

Foi uma batida forte, mas tive sorte de não atingir nenhuma janela do carro. Um centímetro a mais para o lado e eu teria entrado carro adentro, quebrando vidros e me rasgando inteiro. Minha primeira reação foi gritar, pela dor CABULOSA que sentia e pra chamar a atenção de transeuntes – dica de profissionais, sempre faça isso. Movi os dedos dos pés, das mãos, tudo funcionando… menos o pé esquerdo. Pensei na moto.

Legal como ela ficou com uma "aerodinâmica" com o guidão virado pra direita

A moto estava atrás de mim, vazando gasolina. Não tentei me levantar, nem conseguiria pela GALERA que juntou ao meu redor ORDENANDO pra eu ficar imóvel. Minutos depois, fui levado para o pronto atendimento da Santa Casa, frustrado pela falta de sirene da ambulância. Não me senti digno de sirene.

No hospital, fui atendido pelo doutor Cristiano de Oliveira Maia, que perguntou onde doía. Expliquei que sentia muita dor e não conseguia mover o pé esquerdo. O doutor, sem tocar em mim, apenas me trocou de maca.

A maca em que cheguei, dos bombeiros, é colocada sobre a maca do hospital. Pra retirar a maca de cima, é preciso “rolar” o paciente para o lado, retirando a de cima e deslizando-o sobre a maca de baixo. Acontece que o “doutor” resolveu me rolar POR CIMA DA PERNA QUE EU DISSE QUE SENTIA DOR. Gritei de dor, ele saiu da sala para voltar ao seu trabalho de ficar de braços cruzados em um balcão, olhando para o nada.

Dez minutos doutor, o médico grita de longe:
– CONSEGUE ANDAR?
– NÃO. – respondi, com um certo tom de “não tá vendo que meu pé tá zoado, porra?”
– VAI LÁ TIRAR UM RAIO-X!

Absurdos à parte, desci da maca pulando e falhando miseravelmente em me deslocar por mais de um metro até a porta. Pegamos uma cadeira de rodas e fomos tirar o raio-x. Minutos depois e de radiografia em mãos, voltamos ao médico. Uma análise de trinta segundos depois e uma receita de anti-inflamatórios (como praticamente tudo o que se receita hoje em dia), o médico me libera do hospital.

– Não tem nada aqui não, pode ir pra casa. Se continuar doendo, você volta.

Por alguma política idiota do hospital, eu não pude sair usando a cadeira de rodas. Tive que sair pulando do pronto-atendimento até o estacionamento do hospital, sentindo meu pé pular por dentro. Por uma lei criada por algum idiota de terno que fica sentado o dia todo preocupando-se com a potência do ar condicionado, acidentes de trabalho precisam OBRIGATORIAMENTE ser atendidos no sistema público de saúde.

Acontece que, ainda bem, tenho plano de saúde. Na segunda consulta, foi constatada uma fratura nos ossos do calcanhar. Por precaução, foi marcada uma terceira consulta com um especialista no outro dia. Vinte e quatro horas de muita dor depois, o diagnóstico final: eu era dono de uma lesão seríssima nos ligamentos do calcanhar esquerdo, e que caso não houvesse cicatrização seria preciso uma cirurgia.

Enquanto recebia as más notícias, eu só conseguia lembrar do que havia acontecido um dia antes. Eu havia sido LIBERADO do primeiro hospital com uma receita de remédio e um diagnóstico FURADO baseado em um raio-x QUEIMADO e um médico plantonista que me atendeu com a menor vontade do mundo. O mesmo médico que me mandou ANDAR pelos corredores do hospital com pé quase que completamente solto por dentro.

Devidamente imobilizado e diagnosticado, vim para casa escrever meus textos.

***

Eu costumo dizer que há um ponto positivo pra tudo. Mesmo sendo difícil enxergar através da imensa barreira de dor e incômodo constante que ligamentos rompidos causam, existe algo positivo em sofrer um acidente de moto. E é exatamente disso que saiu aquela lição do texto passado.

O pior de tudo não é a dor, não é o desconforto. O pior é se tornar dependende de outras pessoas para quase tudo. Se eu tenho sede, eu tenho duas opções: ou caminho de muletas até a cozinha, arriscando bater, tropeçar ou cair, me servir um simples copo d’água e beber lá mesmo, pois não posso carregá-lo; ou grito pra minha vó, uma valente senhora de setenta e cinco anos me servir. Ninguém reclama de ajudar, mas eu me incomodo em pedir coisas tão simples pra outras pessoas.

Mesmo assim, estou longe do direito de reclamar. Existem problemas muito maiores que os meus, não tenho o menor direito de sair amaldiçoando ninguém por um pé que não funciona.

Sinceramente, eu disse a verdade no último post. Hoje, sou muito mais grato pelo que funciona do que puto pelo que está danificado.

Sobre o protesto da USP, playboys revolucionários e as Cabeças de Pedra na Ilha de Páscoa

Sabe o que eu odeio? Brasileiros.

Brasileiros são aquela raça de pessoas com cultura limitada, que abraça tudo o que acontece no exterior e distorce, adapta a seu próprio favor.

O protesto dos estudantes da USP de São Paulo é um sinal disso. A brincadeira foi claramente influenciada pelo movimento Occupy Wall Street, que ta rolando nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Caso você tenha caído do bercinho, o “Occupy Wall Street” é um movimento de protesto contra a manipulação da política americana pelas grandes corporações.

Encorajados pelas redes sociais, centenas de pessoas se reuniram nas proximidades de Wall Street, protestando contra a péssima distribuição de renda e o ventriloquismo que o governo americano se sujeita. Isso poderia acontecer em qualquer lugar do mundo, e está acontecendo.

Só que o brasileiro, meu amigo, só sabe aproveitar da situação para interesse próprio, não pelo bem comum. É aí que entram os playboys revoltados da USP.

Caso você tenha vivido os últimos dias em uma caverna escura, vou resumir a história usando um vocabulário limitado e um texto cheio de aspas e ironias.

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Comprando malemolência pela internet

Usando métodos nunca jamais vistos na parte de baixo do planeta, pesquisadores suecos chegaram à conclusão de que, aos 22 anos, a maioria das pessoas já passou mais tempo na internet do que defecando em toda a sua vida.

A experiência utilizada baseou-se em macacos submersos de ponta-cabeça, realizando equações derivadas de segunda ordem. Mesmo que isso não faça nenhum sentido, você DEVE confiar nessa pesquisa pois são PESQUISADORES SUECOS.

Esse tipo de conhecimento nos dá base suficiente para assumir que, mesmo as pessoas conhecendo melhor a internet do que seu próprio sistema excretor, ainda se tem a idéia errada sobre muita coisa presente neste mundo virtual do ciberespaço.

- Olha mãe, estou na internet!

Qual foi a última vez que você ouviu a palavra “ciberespaço”?

Fato é que, em pleno século vinte e um, pessoas ainda têm a noção errada dessa tal Internet – e para exemplificar isso, vamos explorar o fabuloso mundo das compras online, talvez o setor mais afetado pelo desconhecimento da realidade interwébica.

Separaremos as pessoas em três grupos:

1- As pessoas que assistem televisão demais

- Oh meu Deus, ele está comprando pela internet!

O primeiro grupo se destina às pessoas que, como o nome diz, assistem televisão demais. E como diz a 5ª LEI DA INTERNET, quanto mais televisão você vê, mais medo da internet você tem.

O quê? Você não conhece as LEIS DA INTERNET? Em que mundo você vive? A quinta lei é exatamente o que eu disse: a quantidade de televisão que você assiste afeta diretamente o seu jeito de usar esta ferramenta inovadora chamada interwebs.

Praticamente todos os dias vemos na televisão matérias sobre “como comprar usando a Internet”, “como proteger seu computador dos vírus da Internet” ou “como evitar que sua filha de 13 anos seja estuprada por um homem de 36 anos chamado Romeu que ela conheceu pela Internet”. Isso faz com que eles, virgens da malemolência exigida por este meio selvagem, tenham medo de se aventurar pelas ondas do mundo mágico da internet.

E é lógico: quem tem medo de cobra, jamais vai entrar na Amazônia. É onde nascem diálogos como este:

– Celular legal, onde comprou?
– Ali na loja de informática do Maurício. Top de linha. Paguei 1300 reais.
– Pô cara, acho que te passaram a perna, esse modelo já tá ultrapassado e na internet tá 699.
– CE TÁ MALUCO QUE EU  VOU COMPRAR NA INTERNET CARA!!!
– Qual o prob
– FORA QUE É TUDO FALSIFICADO, VOCÊ VAI COMPRAR UM CELULAR E RECEBE UMA CABRA EM CASA!!!! OLOLOLO
– Não é bem assim e…
– É A INTERNET CARA VOCÊ NÃO PODE PASSAR DADOS PESSOAIS PELA INTERNET
– Mas você tem orkut.
– n add quem ñ conheço flw  abs

2- As que fazem compras online normalmente;

O segundo grupo é um pouco mais liberal, mas nem tanto. É como aquela sua namorada que abre as portas da felicidade na segunda semana de namoro, mas demora três anos pra te deixar tocar a fronteira final.

- Eu não vi o cadeado nesse site ucraniano e comprei mesmo assim!

Essas pessoas já têm menos medo de fornecer dados críticos como CPF e cartões de crédito pela internet, simplesmente porque confiam no conhecimento adquirido durante algum tempo. Sabem que, mantendo o anti-virus atualizado e não entrando em sites desconfiados – state the obvious – elas estarão seguras.

São também comuns usuários de Internet Banking, a invenção mais evoluída da história da humanidade depois do e-mail e das barrinhas de cereal. São pessoas inteligentes, mas até certo ponto.

– Celular legal, onde comprou?
– Comprei pela Internet, na lojavirtualshoponline.com.br. Não é bem top de linha, mas paguei só 699.
– Cara, você acha esse celular por 500 reais no MercadoLivre.
– VOCÊ TÁ MALUCO QUE EU VOU COMPRAR NO MERCADOLIVRE CARA!!!
– qual o p
– ELES VÃO ME ROUBAR CARA!!
– de novo isso
– VÃO ENVIAR UMA CABRA NO LUGAR!!!! 

Imagina cara, isso nunca acontece!!

Esse pessoal demora um pouco a aprender, mas é como mergulhar numa piscina de lava: tem que ir aos poucos. Isso nos leva ao terceiro grupo:

3- As que fazem compras online normalmente e no MercadoLivre.

Estes usuários são aqueles formados na faculdade da vida, que provavelmente já se foderam alguma vez usando a Internet e adquiriram experiência com isso. Com mãos calejadas, penetra nas entranhas da rede mundial de computadores e quase sempre consegue o que quer.

Quer um exemplo? Tente comprar um iPhone 4 de qualquer operadora, em qualquer loja. Você terá que desembolsar não menos que duas mil pelotas de bode para adquiri-lo, enquanto no Mercadolivre, a mesma versão custa pouco mais da metade disso.

No começo, eu concordo, o ML era terra de ninguém. Comprar no MercadoLivre (assim como o Ebay e qualquer outro tipo de comércio direto à distância) envolvia uma questão complexa filosófica.

Depositar dinheiro na conta de um estranho, para somente após dois ou três dias descobrir se a outra pessoa cumpriu com sua parte no acordo, era estarrecedor.

Era mais ou menos como se alguém chegasse pra você e dissesse “ei, eu tenho aqui esse Playstation com dez jogos , estou a fim de fazer negócios. Pra tê-lo, você tem que passar três dias e três noites com a cabeça enfiada dentro de um formigueiro. Ao final do terceiro dia, talvez eu envie um mensageiro para lhe entregar o produto”.

Embora seja o mais sapequinha da rede virtual, geralmente os “Mercadolivrers” se tornam persona non grata após um tempo. Qualquer que seja a conversa, o MLer sempre vai dizer EU ACHO MAIS BARATO NO MERCADO LIVRE.

A ironia é que, geralmente, são esses caras que compram Playstation e recebem tijolos, rs.