O dia em que fui o primeiro.

Eu nunca fui bom em futebol. Nunca. Minha falta de aptidão ao esporte bretão se espelhava na minha posição – sempre me voluntariava a ir pro gol, uma vez que lá o time não dependeria tanto do meu talento com a bola nos pés. Talento esse que, bom, não existia. Estando no gol eu oferecia alguma resistência, afinal segundo conceitos da física, onde eu estava a bola não poderia estar. Estar parado no meio do gol era uma contribuição maior do que eu jogando na linha.

Quando não era goleiro, era zagueiro. Ou o equivalente a “cara que fica perto do gol pra atrapalhar o time adversário” do futsal, uma vez que nunca joguei futebol de campo na vida. Eu tenho o preparo físico de uma minhoca que acabou de acordar de um coma de vinte anos. Tomo dois impulsos pra levantar da cama. Lateral eu não poderia ser.

Um, dois, três e.... hunf. De novo: um, dois três e...
Um, dois, três e…. hunf. De novo: um, dois três e…

Na zaga, eu sempre adotava a política do carrapato. Onde o melhor cara do time vai, eu vou. Se ele ataca, eu estava lá. Se ele defende, eu estava lá. Se ele decide tomar um banho quente depois do jogo e precisa de alguém pra esfregar suas costas, eu estarei lá. Eu apenas sigo as ordens do professor.

Mas eu também era abusado. Quando o time estava no contra ataque, eu disparava pra frente só pra dizer que estava ajudando. Se a bola acabava no meu pé, eu poderia fazer o que quisesse: chutar pra fora, cruzar errado, perder a bola, tropeçar em mim mesmo. Afinal de contas, era um zagueiro no ataque. Qualquer coisa que fizesse já seria mais do que minha obrigação. Sou pago pra marcar o atacante.

Inteligente como sou, já usava isso como desculpa. O time contra-atacava, perdia a bola e dava origem a um contra-ataque inimigo, que quase sempre resultava em gol – afinal eles não tinham um zagueiro atacante. Seu zagueiro zagueiro estava atacando, ao invés de marcar o atacante atacante. Minha estratégia era sair correndo desenfreadamente do ataque até meu gol, mostrando ao time que pelo menos vontade eu tinha. Capacidade, nem tanto.

- pô galera eu cruzei o campo inteiro pra voltar :( -- FODA-SE VOCÊ NÃO DEVIA ESTAR LÁ
– pô galera eu cruzei o campo inteiro pra voltar 😦 — FODA-SE, VOCÊ NÃO DEVIA ESTAR LÁ

Isso praticamente resume minha carreira no futebol. Exceto por um breve período na quarta série. Naquele tempo eu era bola de ouro.

A educação física era sagrada: toda última hora de aula da quarta-feira era destinada à educação física, que, pra crianças de dez anos, era dizer: “seguinte, eu cansei de dar aula, toma aqui uma bola pra vocês se matarem nessa quadra quente como magma e áspera como a barba do caminhoneiro que namorei na década de 70”.

Sério, vocês não tem ideia de como aquela quadra era imprópria pra qualquer esporte. A não ser que o esporte envolva uma quadra feita de lixa, exposta ao sol sertanezino das duas da tarde, um depósito de cadeiras quebradas no canto da quadra e umas trinta crianças se batendo atrás de uma bola muito pouco preparada para rolar.

Dizem que essa aí é a definição do esporte nacional da Guatemala.

Muitos de nós jogávamos descalços, e na maioria das vezes nem bola tinha. Valia latinha de refrigerante, garrafinhas plásticas (a famosa Pitchulinha) ou qualquer objeto capaz de desempenhar movimento. Se dava pra chutar, era bola. E aquele era nosso Maracanã.

Lembrando que eu não recomendo chutar gordinhos. Não mesmo.
Lembrando que eu não recomendo chutar gordinhos. Não mesmo.

A cena naquela quarta era a mesma: os times eram tirados no par-ou-ímpar e eu era um dos últimos a serem escolhidos. Já tava acostumado, nada demais. Bola em jogo.

Todo mundo sabe que quando criança joga bola, não tem posição. Não tem lateral cobrindo subida de volante. Não tem terceiro zagueiro, libero, segundo volante, nada disso. Só tem uma onda disforme formada por crianças brigando por poucos segundos de domínio da redonda. Segundos de ouro.

Uns se destacam. Sempre assim. Geralmente eles eram os responsáveis por formar o time. Os dois melhores jogadores escolhiam o time. Evitar dois caras bons no mesmo time era uma das primeiras lições de equilíbrio que aprenderíamos na vida. Balanço estequiométrico na quarta série.

A rivalidade entre os times, mesmo que nunca fossem o mesmo, era tanta que no outro dia o time perdedor sempre chegava envergonhado. Sua honra ficaria em cheque até a próxima quarta-feira.

Numa dessas quartas, aconteceu algo diferente. Eu, goleiro da vez, via aquela bagunça de longe. Todo mundo no meio de campo, tirando os goleiros. Bolas chutadas, canelas chutadas, até a mãe de alguém seria chutada se estivesse ali no meio. Até que Thiago, um dos caras bons, escapou daquele buraco negro.

Entre ele e o gol, eu. Dada a imensa diferença de habilidade entre nós dois, era praticamente certo que ele marcaria aquele gol. Aliás, seria um puta golaço, afinal Thiago havia driblado não só todos os jogadores do meu time, mas os do time dele também e, se não me engano, driblou uma família de turistas japoneses que passavam por ali. A gente nunca ouviria o fim da zoação se ele marcasse aquele gol.

Entre ele e o gol, alguns metros. Distância suficiente pra todos os jogadores do meu time simplesmente desistirem de correr. A descrença deles em mim era tão grande que não compensava suar aqueles metros a mais só para, no fim, buscar a bola e ouvir a comemoração alheia mais de perto.

Essa é uma das memórias mais intensas que tenho da infância. Mãos rígidas, joelhos flexionados. Tudo o que aprendi nesses programas esportivos de domingo a tarde que ninguém assiste. Eu, do alto do meu corpinho roliço, estava pronto.

Thiago deu mais alguns passos com a bola. Chutou forte, meia altura, canto esquerdo. Meu lado ruim, longe demais pra pegar. Todo mundo ali na quadra já sabia que seria gol. Tenho certeza que já tinha alguém virando o placar.

--- PORRQUE PRRA MIM É ASSIM QUE TEM QUE BATER, FORTE E NO ÂNGULO
— PORRQUE PRRA MIM É ASSIM QUE TEM QUE BATER, FORTE E NO ÂNGULO

Nesse momento, eu pensei “Hoje não“. Saltei. Braços esticados, olhos fechados. Encostei naquela bola com a ponta dos dedos. Caí no chão como uma torta virada pra baixo, uniforme já rasgado, pensando “eu fiz isso mesmo? Eu peguei aquela bola?“.

Na minha cabeça, o salto demorou um século. Os três, quatro metros do gol se tornaram quilômetros. Da hora que pulei até o momento que toquei o chão com a energia cinética de dez bombas nucleares, eu poderia ter cantado uma canção.

Daria tempo de cantar Faroeste Caboclo durante o salto e ainda não chegaria ao chão.
Não tinha medo tal João do Santo Cristo, era o que todos diziam…

Ouvi gritaria. Ainda jogado no chão, imaginei que seria o time comemorando o gol antológico marcado por Thiago. Nem Pelé havia feito um gol daqueles na quadra do Anacleto Cruz. Talvez porque Pelé nunca tenha pisado ali, mas não tira o mérito do moleque.

A gritaria foi chegando mais perto. “Eles vão comemorar em cima da gente.”. Pouco depois, senti um peso em mim. “Seria esse o peso do fracasso?”, filosofei. Era como se um dinossauro tivesse me escolhido como penico e despejado toneladas de cocô pré histórico em cima de mim. Sensação comum, quem nunca?

Acontece que eu tinha pego aquela bola. O pequeno toque que dei nela, em meio ao vôo mais longo da minha vida, foi o suficiente pra impedir o gol e jogar a bola para escanteio.

Eles não estavam me zoando. Estavam me celebrando. Naquele momento, deixei de ser o cone no gol pra ser o goleiro que tinha pegado aquela bola.

eu devia ter comemorado assim
eu devia ter comemorado assim

Não que tenha sido um ato heróico, mas foi algo a ser louvado. Não era comum, pelo menos entre nós, um goleiro se jogar e se ralar inteiro pra salvar uma bola. Eu literalmente dei o sangue por aquela bola. O sangue e o uniforme. Foda-se, virei herói.

O jogo acabou pouco depois, afinal tínhamos muito pouco tempo pra jogar. Durante o resto da semana, nas outras peladas que jogávamos nós recreios, eu continuava no gol. Chega a imundo na sala. Valia a pena.

O melhor aconteceu na quarta-feira seguinte. Lembra que eu disse que eram os melhores jogadores que tiraram os times? Pediram pra que eu e Thiago escolhêssemos.

Curiosamente, naquele jogo eu não fiquei no gol. Portando minha camisa 10 (falsificada) do Corinthians de 98, joguei na linha. O zagueiro deles ficava na minha cola. Se eu atacava, ele estava lá. Se eu defendia, ele estava lá. Eu devia ter ido pro vestiário tomar um banho quente.

TL;DR: eu era ruim de bola, defendi uma bola impossível e virei herói.

Eu odeio exercício físico

A imagem mental de todo blogueiro é essa: gordo, cabelos mal cortados, gordo, nerd, seboso e gordo. Não é bem verdade. Havia dito aqui, uns anos atrás, que me pareço muito com Fábio Assunção (depois de ser espancado pela Yakuza e perambulado insone pelo interior da Mongólia por dois anos sem comida).

Acontece que, para um jovem senhor de 24 anos, estou relativamente bem. Tenho a idade mental de 74 anos e a disposição física de… bem, 75. Mas não tenho problema de saúde algum – claro, além de uma pequena condição chamada penisulum enormis, onde o pênis acaba sendo desproporcionalmente grande em relação ao dedo mindinho do pé esquerdo.

O problema é que teu corpo, uma vez perfeito e irretocável, não é eterno. Quando a idade bate (!), tarefas que você concluía com destreza felina começam a ficar mais complicadas. Dois anos atrás eu caminhava treze quilômetros por dia no trabalho. Hoje, tenho que tomar fôlego e dar dois impulsos pra levantar do sofá.

Então, decidi dar um basta nisso.

Mas antes eu preciso dizer: eu DETESTO essa galera que prega de VIDA SAUDÁVEL É TUDOOO na Internet. Você segue os caras por algum motivo qualquer e, do dia pra noite, o povo só sabe falar de granola e postar foto de barra de cereal.

OK, atividade física é algo mais do que necessário e exige sacrifícios. O pessoal adora uma foto de salada.

vidasaudavel1

 

A única coisa que eu leio quando vejo isso é:

vidasaudavel2

Eu não entendo a necessidade que todo filho da puta que faz academia tem de ANUNCIAR AOS QUATRO VENTOS que começou ou que faz e tal. Legal de quem faz e fica na sua. Quem nunca viu uma pessoa tirando foto na frente do espelho falando “#partiu treino” não vive nesse planeta.

ACADEMIA

Sou abençoado por um metabolismo estranho. Como tranqueira da hora que acordo até a hora que durmo e simplesmente não engordo. Todo tipo de guloseima ultracalórica que entra meu corpo parece ser mandada para outra dimensão.

Ano passado, eu literalmente comia barras de chocolate todos os dias, acompanhado de refrigerantes e salgadinhos. Trabalhava sentado e a única atividade física que eu fazia era levantar da cama. As coisas foram piorando.

Hoje comecei a caminhar e correr, parte do “programa de cumprimento de metas do Raphael pra 2013”. Até o fim de julho, pretendo correr no mínimo dez quilômetros sem ter um ataque cardíaco. Pode parecer pouco, mas pra quem tem que se alongar pra conseguir levantar da cadeira,

Provavelmente o blog falará um pouco sobre essas AVENTURAS num futuro bem próximo. É interessante receber algum tipo de estímulo ou comentário positivo.

Não vou ficar tirando foto minha sem camisa e postando aqui, podem ficar tranquilos. Toda vez que eu passo em frente a um espelho, me cubro com um lençol. Ninguém quer ver isso.

Agora, com licença que #partiu #treino

 

Mil não cairão ao teu lado

Estudos indicam que cerca de 93% de todos os diálogos internéticos começam da seguinte forma:

– oi
– oi, tudo bem?
– tudo, e você?
– bem também.

São tantas coisas a dizer a respeito disso. Primeiro, que eu sou completamente avesso à essa prática de “oitdbem“. Se eu tenho que falar com fulano sobre um assunto determinado, não ocupo um par de preciosos minutos perguntando sobre o dia dele. Aliás, assunto que muito pouco me interessa, uma vez que se eu souber que o dia do cara está uma merda, capaz dele transformar o meu dia em uma merda também.

Segundo, que eu sou sincero demais pra ter esse tipo de conversa. Todos os manuais de bons costumes e auto-ajuda dizem pra responder ao oitdbem da mesma forma: “Estou ótimo, obrigado, e você?”. Eu detesto mentir. Geralmente não estou ótimo. Eu raramente estou ótimo.

Essa conversa segue um algoritmo muito bem programado. Qualquer palavra fora do padrão desencadeia uma estranha corrente de eventos, que sempre culmina com alguém abrindo o coração para alguém que não se importa tanto assim, mas não quer ser deselegante pra dizer “Olha, amigo, eu só perguntei por etiqueta. Por favor, lide com seus problemas ou cale-se enquanto eu tento lhe ignorar deste momento em diante”.

Acontece que, às vezes, a gente precisa de um “oitdbem“.

Ontem eu tive um dia diferente. Num dia que, além de demorar vinte semanas pra passar, aconteceram coisas tão ruins que me jogaram não só no fundo do poço, mas colocaram alguns crocodilos lá, só pra zoar.

Os oitdbem foram substituídos por “você está bem?“, vindo de pessoas próximas, nem tão próximas e até pessoas que mal conheço, mas interagem comigo via facebook, twitter ou mesmo na faculdade. Hoje vejo que a diferença entre os dois é enorme.

Alguém que chega pra ti, sem oi nem nada, e lhe pergunta se está tudo bem, realmente quer saber se está tudo bem. Baseando-se na quantidade de “tudo bens” que recebi ontem, acredito que eu seja um pouco mais querido do que esperava ser. Eu sou bicho do mato, sempre fui, gosto de me esconder em casa e não fazer o que não quero fazer. Num período de luto sem fim por um relacionamento muito bom que não deu certo, fiz exatamente o contrário do que manda a cartilha: me isolei. Parei de sair, parei de conhecer gente, parei de andar com quem gosto, tudo isso em respeito a um luto (talvez desnecessário) por alguém que se fora. Mesmo assim, várias pessoas vieram perguntar se eu estava bem.

E eu não estava. Desabafei com várias delas, falei horas e horas sobre um problema sem solução e sobre a vida de outras pessoas, que hoje sei que não tenho o direito de falar. Ouvi dezenas de vezes a palavra “Tempo”, aplicada sempre no mesmo conceito: “O tempo acerta tudo”. Mas pra alguém que filosofa até ao abrir um saco de biscoito de polvilho, tempo significa mais sofrimento. Abençoados sejam aquelas pessoas que separam um pouco da própria felicidade pra tentar compartilha-lha com alguém que não está bem. Aqueles que fornecem um ombro a quem só quer falar dos problemas, mas não quer ouvir solução. Lidar com gente assim, admito, deve ser um saco.

Mesmo assim: no final do dia, depois de tudo isso, ainda me perguntavam se estava tudo bem. Isso me fez pensar em muita coisa.

Alguns parágrafos atrás eu havia dito que eu raramente me sinto ótimo. Acontece que, hoje, eu me sinto ótimo.

Não que a situação tenha mudado. Na verdade, do ponto de vista desgraçado que eu tinha ontem, a “situação” piorou e deveria piorar de forma linear com o passar do tempo. O que mudou foi meu jeito de ver as coisas. Eu tenho um puta medo da solidão, e mesmo assim, inconscientemente, eu faço coisas que me isolam. Mas tanta gente veio me perguntar “você está bem?” que, no fim do dia, eu percebi que muito mais gente se importa comigo do que eu imaginava.

Todas essas pessoas transformaram algo muito, muito ruim, em algo muito, muito bom. Todos os conselhos foram ouvidos, claro, mas o mais importante pra mim foi ver que tanta gente quer meu bem.

Tá tudo bem agora

Seja qual for tua religião, você já deve ter ouvido estas palavras: Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti. (Salmo 91). Sinceramente, pouco me importa quem escreveu ou qual o contexto, mas essa frase não sai da minha cabeça. Foi no fim da noite de ontem que percebi: ao contrário do que aqueles versos dizem, eu serei atingido sim, mas os mil não cairão ao meu lado. Mesmo se eu cair, eles jamais cairão e me trarão de volta quantas vezes for necessário.

Não é sobre “quem ficou do meu lado, quem ficou do outro lado”, pra mim pouco importa quem ganha e quem perde com o fim de um relacionamento. Afinal de contas, depois que a guerra acaba, os dois lados são perdedores.

É sobre mim. Mesmo perdendo, eu me sinto muito bem, e você?

Uma relação de (muita) reclamação e (pouca) gratidão

Já aviso agora que este não vai ser um post engraçado, sequer divertido. Mesmo tentando ser positivo na maioria do tempo, não encontro motivos pra ser engraçadinho enquanto tento fazer você abrir sua cabeça e aprender comigo uma pequena lição de vida.

Seres humanos têm a mania idiota de reclamar. Reclamar de absolutamente tudo, por menor que seja o assunto. Um iPod que não sincroniza com o seu programa, um ar condicionado que não refresca a sala, ou que refresca a ponto de congelar a secreção nasal das pessoas. Pessoas reclamam sobre o BBB. Pessoas reclamam porque ainda não é sexta.

AFF CHEGA LOGO SEXTA

Pessoas reclamam de absolutamente tudo.

Também temos a mania idiota de arrumar desculpas para tudo. Gastamos mais tempo (e vontade) arrumando desculpas esfarrapadas para acobertar negligência ou preguiça do que realmente fazendo o que precisamos ou queremos fazer. Estas desculpas servem um único propósito: nos estabelecer dentro da zona de conforto.

Zona de conforto é quando tudo o que você tem, quer e faz é o ideal. Você não desprende esforço nenhum em executar estas atividades, elas te trazem o mínimo de prazer e satisfação. Passamos a maior parte do tempo nessa zona do conforto, e muitas vezes desejamos estar assim, só que uma vez aqui dentro, fica difícil sair. Seres humanos também têm a mania idiota de querer e valorizar o que não tem. Então, uma hora, a zona do conforto passa a ser desconfortável – e aí entram as desculpas novamente.

Para sair da zona do conforto, você precisa tomar atitudes. As desculpas impedem que as atitudes tomem forma.

Você decide que quer começar a frequentar uma academia. Então começa a pensar nos problemas: muito caro, o horário é complicado, a falta de companhia é um problema também. Resultado: você não faz nada disso e volta pra onde estava.

Você quer começar a ler mais livros, ter mais cultura. Aí lembra que não tem tempo pra isso, que não se interessa por leitura, que não tem recomendações de bons livros… e novamente não faz nada.

É aqui que entra minha história.

Acabo de viver o pior ano de minha vida, marcado por más decisões e as complicações derivadas delas. Parei a faculdade, tomei a pior decisão profissional da minha vida, tive problemas em casa… enfim. Acontece que, mesmo com estes problemas acontecendo, eu estava em minha zona de conforto.

Precisava me dedicar mais na faculdade, arrumar um novo emprego, até me exercitar e me alimentar melhor. Escrever mais para o blog, me dedicar a projetos secundários, me aproximar de pessoas com os mesmos interesses. Eu sabia que queria fazer muitas coisas, e algumas delas eu precisava fazer.

E para cada coisa que eu queria fazer, eu arrumava cerca de vinte motivos que me impossibilitavam.

Na última segunda-feira, fui tomado por “indignação” por mim mesmo. Faltei da faculdade por preguiça, fiquei jogando videogame em casa. Quando me toquei que tava jogando minha vida fora por besteira, pensei em mudar. “Acho que vou começar a caminhar quarta-feira pela manhã, me dedicar mais na faculdade…”

Só que no meio do caminho tinha um Gol prata.

Caso você não tenha passado pela experiência, não há nada de divertido ou interessante em sofrer um acidente de trânsito. De moto, então, nada legal.

Pelos danos causados na moto e pela violência do impacto, eu tive bastante sorte. Apenas uns ligamentos do tornozelo lesionados, nada demais. Pessoas costumam morrer em acidentes de moto todos os dias, tive a sorte de não ser uma delas. Estarei imobilizado pelas próximas seis semanas, com o risco de fazer uma cirurgia complicadíssima. Além disso, mais dois ou três meses de fisioterapia e mais algum tempo para perder o medo de andar novamente.

Foi no pronto-socorro que aquela tradicional ironia kármica tomou conta de mim. Um dia antes do acidente, eu estava amaldiçoando o tipo de vida que estava levando. Um dia depois, estou com o pé envolto por dois quilos de espuma em pleno verão sertanezino, e assim estarei por meses e meses.

Se eu quero tomar um copo d’água, duas opções: ou eu grito para minha avó, uma valente senhora de 75 anos, levantar do sofá para me servir, ou eu demoro vinte minutos para conseguir levantar e caminhar até a cozinha de muletas e saltitos, colocando em risco minha recuperação.

Se eu queria começar a caminhar e a preguiça me impedia, agora não posso andar. Se eu amaldiçoava o lugar horrível que trabalho, agora não posso trabalhar. Além disso, a dor ABSURDA que estou sentindo. Além do tornozelo, todo fodido por dentro, o resto do corpo paga o preço por um membro que não trabalha.

Costumo dizer que ninguém é capaz de mudar por si só, que é preciso um um evento enorme pra fazer pessoas mudarem seus hábitos, suas atitudes. Foi preciso que a vida colocasse um carro no meu caminho pra que eu aprendesse a valorizar o que eu tenho. Não vou dizer que foi uma experiência transcedental, que foi um ato místico, que vi uma luz branca ao fechar os olhos, mas digo que isso tudo foi capaz de me mudar, sim.

Pelo menos a visão que tenho de quão idiota eu estava sendo, jogando minha vida fora e reclamando de coisas pequenas. Por mais brega que seja o discurso, hoje SEI que devíamos ser um pouco mais gratos por funcionarmos perfeitamente.

Eu sei que meu problema está longe de ser grave. Famílias que passam o mês com um salário mínimo, isso é um problema grave. Eu não tenho sequer o direito de reclamar da dor. Por mais fodido que esteja meu pé, ainda posso me mover e tenho ótimas pessoas ao meu lado que me ajudam ou me encorajam. Mesmo nessa situação, não tenho motivos pra reclamar de nada.

E você, vai continuar reclamando do quê agora?

O dia em que eu apanhei de um gordinho na escola

Talvez das maiores mentidas que uma pessoa pode contar é “Eu não me arrependo de nada”.

Pois é. Por mais que você seja daquelas menininhas bonitinhas que saem postando no Facebook que não se arrepende de ter bebido treze doses de tequila na noite passada, vomitado no seu ex (que naquela hora ainda era atual) e tirado a roupa em pleno bar, você tem bagagem pior que isso e se arrepende dela. Essa “bagagem” mudou você, em algum ponto da sua vida.

Todo mundo se arrepende de alguma coisa. Se até aquele soldado badass de filme americano oitentista se remói com fantasmas antigos, o que dirá você, frangote?

Por pior (ou maior) que seja o fantasma que o assombra, esse arrependimento tem um lado bom: servirá de lição pro resto da sua vida. Muitos destes arrependimentos tem origem em decisões tomadas de forma absolutamente equivocada, no calor do momento, como aquela vez que você apelou com o maluco mais gordinho da sua sala, chamou o cara pra briga em pleno intervalo de aula, com o pátio da escola mais lotado que a reitoria da USP em dia de protesto, pagou de gostoso e ainda saiu perdendo vergonhosamente.

Teve aquela vez que você, ao contrário do que todos recomendavam, decidiu vestir seus patins e sair correndo pela rua ensaboada pela combinação das primeiras gotas de chuva e a poeira do asfalto. Os primeiros minutos de adrenalina e diversão deram lugar a horas de dor com seu cóccix fraturado, sendo obrigado a ficar com o rabo engessado por semanas.

Ou ainda aquela vez que você viu uma espinha nascendo e decidiu fuçar o bagulho com uma picareta, dando origem a um vulcão ativo na sua testa a menos de três dias da sua formatura.

Não importa: dez segundos ou dez dias depois, você vai se tocar de que fez merda. No meu caso, foram dez anos.

Eu sou menino criado com a avó, mas crescido em escola pública. Desde pequeno, nunca fui aquele cara que impõe respeito ou que fica fazendo sacanagem com os outros só pela diversão. Eu ia pra escola pra estudar e jogar futebol, apenas isso.

Mas estudar em escola pública e não saber se defender é como entrar em um bosque cheio de ursos e não saber usar um lança-chamas: você vai morrer. Dessa forma, minha tática foi sempre a mais malandra possível: dê a eles o que eles querem e eles te deixarão em paz.

Na segunda série, existia esse cara chamado DON VITO DO SERTÃO (preciso dizer que o nome é falso?). Mais velho, mais forte, mais perigoso. Era o terror da turma da tarde. Todo santo dia DON VITO chegava bem maroto pra miguelar meu lanche, quase sempre um salgadinho do Cascão, e todos os dias ele dizia a mesma coisa:

– Se alguém mexer com você, fala comigo.

vem na minha casa, não me trás nenhum presente...

Eu tinha oito anos e já era protegido pela máfia. Não existem muitas ameaças de verdade na segunda série, portanto DON VITO nunca me foi útil naquele colégio. Mas eu aprendi o truque.

Os perigos que a quarta série não tinha, na quinta e sexta tive aos montes. Da quinta até a oitava série, convivi com pessoas que claramente eram influenciadas pelo lado vida-loka da força. Bandidinhos, aspirantes a marginais, projetos de traficantes, essa é a vida no sistema público de ensino de São Paulo.

E graças ao sistema de protecionismo quase mafioso de DON VITO, aprendido anos atrás, eu sobrevivi aos onze anos de ensino na rede pública. Ameaças não faltavam, principalmente dos próprios caras que me protegiam. Mas, fazer o quê? Se você não coopera com o sistema, o sistema se volta contra você.

Àquela época, salgadinho não era mais o suficiente pra salvar minha vida. Era preciso mais, era preciso fornecer algo que eles não tinham e eu tinha sobrando: inteligência. Não tirando os caras, mas nem todo mundo ia pra escola porque queria aprender. Assumi o posto de “nerd-bro”, aquele cara bacana que faz as parada pra todo mundo, e nunca apanhei na escola.

Até o dia que eu quis cantar de galo.

***

Aquele 2002 foi um dos anos mais bizarros da minha vida. Eu “”namorei”” (sim, entre aspas quádruplas) uma patricinha que hoje é tatuadora e pin-up, virei vizinho de um monte de bandidagem gente boa do dia pra noite (inclusive tendo problemas por causa disso, outro dia contarei), fiz grandes amizades e perdi algumas também. Aquele ano meio que “moldou” quem eu iria ser, ou quem eu não iria ser nos próximos anos.

Minha sala tinha figurões. Alguns caras eram do alto clero da bandidagem, outros eram gente boa, e outros tenho amizade até hoje. Só que a diversão é muito maior do lado do capeta: eu me fazia questão de me enturmar e zoar mais com o lado negro da força.

E existiam os neutros. Dentre os neutros, tinha um cara chamado TOBIAS (nome obviamente trocado pro nome mais escroto que consegui pensar, para evitar possíveis ameaças de morte. Se bem que não é preciso um GÊNIO pra triangular os fatos e chegar até mim).

TOBIAS era um cara… diferente. No auge dos seus 12 anos, ele possuía uma massa corporal um pouco mais avantajada do que o resto do pessoal. Um exemplo clássico de obesidade infantil, TOBIAS beirava os 120 quilos. Era o mais próximo de um boneco da Michelin que eu já havia visto na vida.

Sem zoar, o mlk era praticamente assim mesmo

Vou ser sincero, eu nunca gostei dele. Não tinha nada a ver com o fato dele ser gordo, mas porque ele era chato, desagradável. Sendo ainda mais sincero, era mais difícil ainda ficar perto de TOBIAS em dias quentes ou depois de uma partida de futebol na quadra, sob o sol escaldante da Marrocos brasileira. Era um pouco de preconceito, sim, porque todos somos preconceituosos. Mas ele era mais chato do que gordo.

No intervalo, que ainda era chamado de recreio, costumávamos nos entregar ao prazer milenar do jogo de cartas mais famoso do sistema educacional brasileiro: o Truco.

Neste dia, em especial, acabávamos de sair da educação física, suados e cheirando a macho (TOBIAS cheirava a TOBIAS). Não feliz em ter sua aura sendo compartilhada por todos nós, TOBIAS começou com brincadeiras idiotas, como contar nossas cartas ao adversário, ou derrubar o baralho no chão.

Eu sou um cara tranquilo, nunca havia brigado na vida. Claro, havia brincado de lutar mas era brincadeira de criança, brigar com amiguinho na rua e tal. Arrumar briga na escola era algo tão saudável quanto enfiar o próprio pau num formigueiro. Pra mim, aquele discurso de que “violência gera violência” vale até hoje, e sentar a mão em alguém era algo completamente fora do meu universo.

Só que naquele dia eu tinha acordado com a macaca. Alguns ainda dizem que briguei pelo excesso de coragem que a presença daquela namoradinha (estranha) no mesmo banco, mas não me lembro dela na ocasião. Sabe-se lá porque, eu fui excessivamente agressivo com TOBIAS:

– Gordo, pára.
– Para com que? – seguido de mais uma provocação, derrubando as cartas.
– Gordo… pára, Gordo….
– Você não vai parar?
– Não tô fazendo nada!! – e continuava me trollando.
– Ahhh filho da puta…

… e foi quando meu lado covarde veio à tona. TOBIAS, pra mim, era indefeso. Era um gordo chato que jamais tinha lutado na vida. Eu era moleque de rua, já tinha batido em metade dos meus amigos e apanhado de outra metade.

De todas as pessoas da minha sala, o mais vulnerável era ele. Sempre zoado, sempre excluído. Na minha cabeça, TOBIAS era um cara tão perdedor que só de querer brigar com ele, eu já sairia ganhando.

Essa certeza de que iria vencer me subiu à cabeça. Naquele momento reuni toda minha arrogância e meu preconceito, somei ao ódio repentino e concentrei tudo em meu pé direito, também chamado de PATA FURIOSA DO URSO POLAR.

Foi quando que me levantei, e no auge da minha fúria, concentrei toda aquela energia em um só golpe, certeiro como sempre.

E ele não sentiu absolutamente nada. 

VOU TE COMER VOU TE COMER VOU TE COMER

Se você teve uma infância feliz, já viu essa cena. Goku lutando contra Majin Boo, o gordo. Goku, já na sua forma super Saiyajin 3, desfere dúzias de golpes violentíssimos no gordo rosado, que só os absorve. Os golpes ainda faziam um barulho engraçadinho, o que aumentava a humilhação.

As camadas extras de gordura de TOBIAS funcionavam melhor que Kevlar. Na conta, foram os dois chutes mais fortes que já dei na vida e uma voadora que faria o Liu Kang se inscrever na escolinha de voadora de novo.

Era surreal demais. Ali, no meio da briga, meu cérebro teve tempo pra lembrar de Goku apanhando de Majin Boo – e era exatamente a mesma cena que acontecia naquele momento. Tudo o que eu fazia era simplesmente ignorado, e TOBIAS nem fazia questão de me agredir, mesmo porque qualquer golpe dele, naquele momento, era absolutamente desnecessário.

O humilhado ali era eu, exatamente por apelar para a violência. E mesmo no meio da briga, eu dava razão a ele.

Lembra do gordinho Zangief? Se aquele vídeo tivesse passado na TV Globinho dez anos atrás, eu jamais levantaria a mão para TOBIAS.

TOBIAS desferiu apenas um chute. UM CHUTE com uma perna direita tão pesada quanto um filho de baleia jubarte. Você aí, brigão, já levou uma baleia jubartada na vida? Eu já, e foi o suficiente pra aprender a lição.

Eu poderia até “sair vitorioso” da luta, embora não saiba o que “sair vitorioso” signifique quando se trata de uma briga no pátio da escola, eu ali era o perdedor. Foi o auge da minha babaquice. Nunca na minha vida eu havia sido um cara tão idiota, e espero nunca mais voltar a ser. TOBIAS era o vencedor ali só por não retrucar – mesmo porque, se o fizesse, eu provavelmente não estaria aqui para contar essa história.

Tudo aquilo durou muito menos de um minuto. Em menos de um minuto, passei a maior vergonha da minha vida (até aquele dia), e hoje levo não menos que meia hora pra contar tudo o que aconteceu.

Agora é uma vida inteira pra me arrepender de ter brigado com a única pessoa que eu julgava ser capaz de derrotar na porrada. Foi preciso passar vergonha na frente da escola inteira pra nunca mais arrumar uma briga na vida.

Hoje, antes de dizer “eu não me arrependo de nada”, eu lembro de TOBIAS e sei que já fiz muita merda nessa vida. Me arrependo, por exemplo, da época que eu só vestia preto e me achava o maior roqueiro do mundo. Me arrependo de ter trocado meus amigos do mundo real por horas e horas de Ultima Online no auge da adolescência. Me arrependo de muita coisa.

Mas, quer saber? Faria de novo. Se um dia meu filho passar pela mesma situação que eu, vou torcer pra que aconteça a mesma coisa.

Brigue, filho. Brigue bastante, e saiba que estarei torcendo pra que você apanhe como um cachorro de rua. Assim tu vai criar vergonha na cara e entender que descer a mão em alguém é a coisa mais babaca que alguém pode fazer – mesmo que a outra pessoa mereça muito.

5 motivos e meio que me tornam um grande babaca

1- Eu quase nunca chamo alguém pra conversar no MSN

Simplesmente por falta de interesse ou por ser babaca, não costumo iniciar conversas no MSN. Quando começo, é apenas para tirar uma dúvida, comentar algo ou coisa do tipo. Quase nunca chamo alguém pra conversar só pra bater aquele papo gostoso que dura horas e horas.

E quando faço, geralmente não costumo começar com o motivo número 2.

2- Eu gostaria de não perguntar “tudo bem?” no início de conversas

Na boa, é besteira perguntar “tudo bem?” no início de uma conversa. A razão é muito simples: você não tá nem aí para a resposta.

Estudos publicados no ano passado indicam que,  segundo o Instituto Matogrossense de Pesquisas Cujo Resultado É Altamente Duvidoso (IMPCREAD), a resposta à pergunta “Tudo bem?”, em 98,4% dos casos, é “sim, e você?”.

Lembrando que:

Só um idiota responde uma pergunta com outra pergunta.

Quando a resposta para o “tudo bem?” é “não”, inicia-se uma cadeia de eventos que leva à inevitável situação onde uma pessoa fica desabafando e a outra pouco se fodendo.

3- Dificilmente eu dou risada de filmes ou televisão

Não costumo demonstrar emoções de forma física assistindo filmes ou programas de televisão.  Enquanto minha namorada rola de rir com filmes de comédia, se assusta horrores com filmes de terror e tudo mais, eu… não consigo.

Em filmes de terror, por exemplo, eu me assusto sim. Não facilmente, claro, mas confessem: sempre rolam uns fechamentos involuntários do esfíncter quando passa um vulto ou quebram uma janela. Em Atividade Paranormal, último filme “de terror” que assisti, em alguns momentos eu caguei litros e litros de merda espiritual.

Claro que tudo isso passou despercebido, e graças a isso minha namorada grudava em mim como gato fugindo de banho.

No final de todo filme de terror, é obrigatória a frase: “nem fiquei com medo, filme de merda”, e isso só pra parecer fodão.

Já em comédias, é pior ainda: não consigo achar um pingo de graça em CQC, Pânico ou o caralho que  faz o povo rir.

Acho graça em muita coisa, mas me fazer RIR é muito mais difícil. Ultimamente tenho assistido as primeiras tempradas de How I Met Your Mother, e por mais que seja tudo seja absolutamente épico, só emiti sons de gargalhada duas ou três vezes em setenta episódios.

Digo, não quer dizer que eu não ache algumas cenas hilárias. Em “Procurando Nemo”, fiz squash no DVD assistindo repetidamente a parte dos atuns que viram uma seta e hahahslkdjkhfj enfim.

É o clichê de senso de humor distorcido, apenas isso.

3.5 – Não acho graça nenhuma em Shrek.

 

Isso é engraçado? Srsly?

– COMO ASSIM VOCÊ NÃO ACHA GRAÇA EM SHREK É O DEZENHO MAIS ENGRASADO DO MUMDO
– não sei cara, nunca consegui ver um filme inteiro sem dormir
– MAS E QDO ELE ARROTA E VOA TUDO KKKK AÍ ELE QUEBRA O ESPELHO KUAKUAKU VC RIU CTZ Q RIU
– n
– COMO NAO KRA UHAUHA EH MTO BOMMMM AÍ TEM US FILHO DELE KUAKUAKU
– blz

4- Não costumo responder a provocações de futebol com provocações de futebol

É aquela velha conversa do “meu pai é mais forte que o seu”.

Sou corinthiano, maloqueiro e sofredor desde os oito anos. Me acostumei com a zoação, afinal de contas não é fácil ser a mais detestada torcida do país. Simplesmente não me atinge.

São paulinos, flamenguistas, vascaínos, palmeirenses, santistas, ponte pretanos e torcedores do Asa de Arapiraca me zoam por terem Libertadores. Eu. Não. Me. Importo. Nunca me importei.

E pior: pra acabar com a munição de quem zoa, eu participo das brincadeiras. Porra, pega um domingo e dá uma olhada na torcida do Corinthians. Pra quê que eu vou me defender da acusação de maloqueiro e ladrão de bicicleta?

Vou responder o quê? Chamar são paulino de bicha modista, flamenguista de favelado e palmeirense de frustrado? Pra quê constatar o óbvio?

Se quer sacanear, seja original e ganhará o respeito. Use os mesmos argumentos de sempre e eu boto em prática a famosa técnica milenar do “foda-se”. Pra quem provoca, a pior decepção é ser ignorado.

5- Não gosto de muita coisa – e pretendo continuar não gostando

Em dezembro de 1988, um acidente trágico numa vinícola sueca fez com que litros e mais litros de vinho inundassem uma reserva natural, local de refúgio de milhares de cegonhas trabalhadoras.

Uma destas cegonhas se embebedou enquanto tentava salvar sua televisão e fez a cagada de desviar milhares de quilômetros do seu destino de entrega, entregando um bebê branco, todo sueco e nórdico em terras brasileiras.

Este bebê era eu. E aqui, infelizmente, encontrei o axé e o funk carioca.

Paciência, cada um tem seu gosto. Eu gosto de rock, tolero todo o resto da gama de sabores musicais do universo. Da música de elevador ao sertanejo universitário, suporto absolutamente tudo exceto essas duas moléstias malditas do universo..

Detesto axé, detesto funk e está completamente fora dos meus planos aprender a gostar e respeitar estes estilos musicais. Não ouço, não vou ouvir, não quero ouvir.

Sou quadrado sim, apenas prezo pelos meus ouvidos.

***

Por esses cinco motivos (e meio) bastante sucintos e racionais, eu concordo que você não deve gostar de mim.

Se gosta, agradeço. Se não gosta, abraço, infelizmente não vou mudar por sua causa.

O curioso é que muita gente se incomoda com o jeito de ser de outras pessoas. Pra cada pessoa que fala muito, ri muito, compra muito, vende muito, veste muito, veste pouco, grita muito, etc, existe um hater.

E ser hater, meu amigo, nunca levou ninguém a lugar nenhum.

O verdadeiro significado da felicidade

Antes de começar a ler este texto, eu lhe aviso: ele será extenso, não terá piadas imbecis e terá um conteúdo um pouco infantil. Sim, lá vem um daqueles textos introspectivos, aqueles que fazem você desistir no meio do caminho porque não tem lá tantas piadas mas possui uma mensagem legal.

Também queria dizer que andei pensando muito, ultimamente.

Pensei pra caramba. Sabe, é como se minha cabeça simplesmente não parasse de pensar um momento sequer. Oh, me perdoe, a sua faz isso também? Bom sinal, já tinha começado a pensar que tinha um tumor no cérebro.

Pensando bem, isso diz que… ou nós dois estamos livres de um tumor, ou nós dois temos um tumor.

Em alguns destes pensamentos que não envolvem tumores cerebrais, eu fico pensando sobre coisas. Coisas como minha infância. Penso mais na minha infância, hoje longe perdida, do que nos meus problemas atuais. E creio que é isso que me permite acordar todo santo dia.

Acredito não ser preciso consultar o Doutor Óbvio, neurologista formado pela USP de São Carlos, para confirmar o fato de que todos nós temos lembranças de infância. Todos tendemos a acreditar que nossas experiências são muito mais interessantes do que as de outras pessoas. A única coisa em comum entre todas as histórias é que lembranças de infância sempre são coisas boas.

Claro, a não ser que você tenha passado toda sua infância em um coma ou acorrentado no porão da sua casa sendo abusado sexualmente pelo seu sequestrador todos os dias durante 17 anos. Aí as lembranças podem não ser tão boas, sabe como é.

Certamente, uma das coisas mais legais da minha infância é o ano do senhor de dois mil e um.

Eu era um guri gordinho, viciado em videogames e revistas de videogames. Também colecionava revistas sobre Pokémon e Dragon Ball Z. Acompanhava o melhor anime porrinolento de todos os tempos através das eternas reprises da Band, que o exibia repetidamente até a saga de Frieza – e começava de novo.

Por volta de abril ou maio daquele ano, depois de anos e anos de reprises, o Cartoon Network começara a exibir os episódios inéditos de Dragon Ball Z, mais especificamente a saga de Cell.

Lembro como se fosse exatamente agora: estávamos todos reunidos na sala quando um comercial de DBZ começou. A diferença era que este mostrava um Frieza todo diferente, os andróides 16 e 17 e Trunks, até então somente vistos em imagens estáticas de revistas.

Numa era sem internet, um anúncio inesperado de novos episódios da sua série favorita só era possível através da televisão. Nossos olhos ficaram vidrados, congelados na televisão, quase incrédulos. Mesmo que por dentro estivéssemos urrando e gritando como se tivéssemos acabado de ganhar um torneio de International Superstar Soccer Deluxe, o frio que subiu pelas nossas espinhas foi suficiente para paralisar nosso corpo todo.

Para uma criança de 12 anos em 2001, era como se exibissem um filme onde mulheres extremamente peitudas esfregassem Elma Chips pelo corpo enquanto jogavam Playstation. Não, era mais do que isso.  Era o anúncio de episódios inéditos de Dragon Ball Z, depois de anos.

Eu não tinha CN em minha casa. Continuava assistindo os episódios reprisados enquanto meus amigos André e Guilherme contavam os detalhes de cada episódio.

Com a devida permissão, passei a sair da escola (estudava à tarde) e ir direto para a casa da avó deles, dona Marina, para enfim matar o que estava me matando.  Eu não só assistia Dragon Ball Z, como assistia episódios inéditos de Pokémon e, caso saísse mais cedo da escola por algum motivo obscuro, ainda pegava episódios adiantadíssimos da primeira temporada de Digimon.

Além disso, ainda desfrutava dos lanches vespertinos da dona Maria, a empregada da casa. Aliás, isso merece uma descrição especial. Era sempre uma coisa simples: pão de forma com hamburguer e suco feito na hora, um pedaço de bolo, biscoitos, enfim. Absolutamente tudo que Maria servia pra gente era a melhor comida do mundo.

A casa de dona Marina era o lugar mais legal do mundo. Pensávamos que aquela casa imensa, de paredes de vidro, cercada de plantas e com portas por todos os lados, possuía entradas secretas. A área de serviço era enorme, palco de disputas acirradas de “galinha-no-ar” (“gol de cabeça” em algumas regiões) e “gol a gol evolution” e…

– Gol a gol evolution?
– É. É como o gol a gol tradicional, mas…
– Mas…
– A cada gol marcado, a gente ia evoluindo e tal.
– Como… Pokémons?
– … É.
– …
– Eu sei.

Hoje, dez anos depois, cada um vive sua vida. Guilherme estuda Medicina na USP, André é Cientista Social formado pela Unicamp e deve falar mais idiomas que a ONU, eu estudo Engenharia Química na Unaerp de Ribeirão Preto. Provavelmente somos pessoas completamente diferentes, e por termos perdido contato, nunca tive a chance de dizer a eles o quão foda eram esses momentos.

Mesmo que a distância nos faça acreditar que algo é muito melhor do que realmente era, sabemos que momentos assim não voltarão. O que torna a infância especial é justamente a sensação de que tudo que vivíamos enquanto crianças, seja o aprendizado, as sensações ou as brincadeiras, não voltará mais.

E pior: mesmo que fôssemos capazes de recriar as situações, não somos mais capazes de sentir as mesmas coisas pois não somos mais crianças. Crianças não se importam com atitudes, com razões, com argumentos, com nada. Crianças apenas se divertem.

E pensar que isso tudo se resume apenas uma frase simples:

A real felicidade acontece quando você simplesmente não se importa com os motivos de estar feliz ou não. Acontece quando apenas estamos felizes, e é simples assim.

Uma singela confissão

Quando era mais novo, eu era um puta de um babaca.

Na minha época de maior revolta, revolta essa tão grande quanto sem motivo, eu andava barbado, cabelo enorme e mal cortado, calças rasgadas… eu era um roqueiro de 15 anos, e tinha tudo o que um roqueiro de 15 anos tem direito.

Eu ia assim na igreja

Isso foi bem antes da cena emo tomar conta da juventude. Eu me irritava muito fácil, era explosivo, caótico.

Como todo roqueiro de 15 anos, eu repito, era um babaca. Conhecia duas bandas e achava que conhecia o mundo do rock, conhecia tudo de música e atacava o gosto dos outros. Não que o gosto dos outros não seja realmente uma MERDA, mas o meu era o melhor gosto musical. Do mundo.

Só que eu só ouvia Legião Urbana, cara. Um roqueiro de 15 anos que só conhece Legião Urbana é um cara que se declara veterano de guerra por jogar Counter Strike.

Teve um dia que eu fiquei muito bravo, sabe-se lá o motivo. Aí como símbolo máximo de revolta, eu cheguei em casa e fui direto pra onde? Pro computador.

Sentei furiosamente na minha confortável poltrona (à época uma cadeira de plástico) e pensei: como demonstrar essa raiva? Como posso tirar de mim a agonia que é ser um adolescente imbecil? Como, cara? Como?

Abri o KazaA, que muitos de vocês meninas de 13 anos sequer chegou a conhecer, mas era o compartilhador de músicas mais usado na época e pensei:

– Vou baixar algumas músicas muito más e vou mostrar pro mundo minha revolta!

Aí fui lá no ápice do meu ódio adolescente e baixei Number of the Beast, do Iron Maiden.

Me senti O ANTICRISTO.

Eu realmente era um adolescente babaca.

Um ode ao N95, o celular mais legal que já tive.

Tive agora a pouco uma pequena discussão com a linda da @pliv_ sobre meu celular, o Nokia n95.

– Tava cansado daquela bosta daquele n95, pâm.
– Não cuspa no prato que comeu.

Já aconteceu com você de ouvir algo que ficasse ecoando em sua cabeça de forma tão intensa que faz você rever teus conceitos?


Tive meu primeiro celular em 2004, um Motorola C200. Embora seu formato quase fálico nos traduza extrema boiolice, tenho certeza que o C200 encabeça a lista de celulares mais resistentes da história da humanidade. Valente guerreiro, sobreviveu a inúmeros tombos, ralados e até um automóvel passando por cima.

O abandonei por ser libertino demais aos 16 anos pra andar com celular.

Um ano depois, adquiri um Nokia alguma coisa, famoso “celular com lanterna”. Por extremo luxo (é nostálgico dizer que um celular de display monocromático e luz esverdeada podia ser chamado de luxo), sequer andava com celular e quis adquirir um novo. Este usei com mais frequência, embora muito mais como passatempo do que falando.

Este celular tinha, além da lanterna, uma versão visceral do Snake, o famoso jogo-da-cobrinha. O jogo tinha 16 níveis de dificuldade (!!), sendo que o último era absurdamente desumano. Era sobrenatural. Ao jogar naquela velocidade, parecia que podia sentir o vento e a vertigem de se dirigir uma cobra (!) a 320km/h. Naquela velocidade, o réptil era capaz de dobrar o tempo-espaço e atravessar paredes, coisa jamais possível em celulares de menor tecnologia.

Mas tudo que é bom dura pouco, e novamente abandonei o aparelho por ser libertino.

Em 2007, primeiro ano da minha maioridade, decidi comprar um celular que realmente me fosse útil. E por obra do acaso, acabei comprando o que parece ter sido o único espécime vivo daquele modelo, o LG MG320C.

MG320C, o celular mais raro de Sertãozinho

Embora tenha ficado com ele quase um ano e meio, nunca tinha reparado o quão retardado é escrever MEGA PIXEL embaixo da câmera do celular. É como escrever POTÁSSIO em uma banana.

Embora ele fosse lindo e peça fina de design, sofria com o problema de todo LG: lento e burro. Funcionava legal, mas descarregar fotos no computador era tão difícil quanto tirar a merda de dentro do intestino de um tiranossauro usando as mãos.

Depois dele, tive um Sony Ericsson W580. Rápido, moderno,  crocante, passei com ele alguns dos momentos mais legais da minha vida: mudanças sociais, profissionais, etc.

Mas ele tinha lá seus problemas. Embora superasse todos os outros celulares do universo em todos os quesitos, bugava com praticamente qualquer coisa. Mensagem? Bug. Música? Bug. Jogos? Bug.

Até que chegou o n95.

Paixão à primeira vista. Na época, celulares que acessavam a internet eram tão modernos quanto carros que voam ou pessoas vivendo em satélites de planetas vizinhos, coisa comum no futuro em que vivemos. Eu, tarado por novidades e gadgets, precisava de um.

E assim, manobras e manobras depois, novamente arquitetadas pela linda da @pliv_, consegui meu n95.

Creio que tenha sido o primeiro celular que estuprei praticamente todas as funções. De pendrive a controle remoto, de emuladores de SNES a desabilitadores de redes wi-fi públicas, tirei do n95 absolutamente tudo o que ele tinha a oferecer, e no final ainda torci um pouco e extraí o caldinho.

Enquanto outros nadavam no mar dos gadgets com iPads, iPhones, iFoda-ses, eu persisti enquanto pude às moléstias que a sociedade me impunha. Enquanto na fila do barbeiro um senhor dedilhava seu celular touchscreen imenso , eu me sentia talhando minhas SMS em pedra usando um celular de teclado convencional.

Particularmente, ainda prefiro um teclado físico do que o teclado virtual dos touchscreens, mas enfim. O n95 sempre foi um celular do caralho. Hoje, eu praticamente o usava apenas para chamadas, verificar e-mails e usar o twitter.

A melhor parte de ter um n95 é que me dá todo o direito de falar mal sobre ele.

O n95 é bom pra muitas coisas, mas EXTREMAMENTE PERFEITO pra quase nada. É lento, “burocrático” e torna tarefas simples, complicadas. Até a lista de contatos, coisa mais básica em um celular, vira uma zona quando se troca de chip.

Bagunçar os contatos de um celular é como uma criança se atrapalhar ao cagar nas calças.

O n95, em resumo, é um celular tão confiável quanto uma arma de fogo carregada na mão de um zagueiro do Corinthians.

O problema do n95, e praticamente de todos os celulares fabricados depois de 2008, é que a duração da bateria é proporcionalmente inversa à necessidade que você tem dela. Quanto mais você precisa do celular, menos bateria ele vai ter.

Por exemplo: você está na fila pra aquele exame admissional na firrrrma. A espera para ser atendido geralmente é 450 vezes maior do que o tempo que você passa sendo examinado. Se você é como eu, não consegue ficar à toa, a sua única alternativa é alcançar o celular e fuçar até seus dedos sangrarem, certo? Com um n95, parabéns, você não poderá ter nada disso!

Além disso, você sempre pode contar com o excelente visor indicativo de bateria, que faz a mágica de, em questão de dois minutos, exibir a carga de 90% cair pra 10%. E aí você está na faculdade, seu ônibus quebra e você não pode avisar ninguém pois sua bateria pode acabar a qualquer momento!

É ou não é sensacional?

E o tamanho do n95, então? Ah, pode dizer, você sempre sonhou em carregar um tijolo baiano em suas calças. Com o n95, você pode! Tão sutil quanto um Airbus , o n95 se encaixa perfeitamente no seu bolso, dando a impressão de você estar andando armado ou carregando um item caro o suficiente para incentivar um assalto!

E não é só isso! O n95 também é ergonomicamente desenhado para se encaixar tão bem na sua orelha quanto um coturno militar tamanho 44! Além disso, o n95 conta com o exclusivo sistema POWER N95 HEAT GENERATOR BARBECUE 3000, que transforma o celular em um potente grill ao usar o telefone por mais de 10 minutos. É incrível!

O n95 ainda conta com o invador e divertido sistema AUTO SHUT DOWN SURPRISE FOR NO REASON V1.3, que desliga o aparelho sem razão aparente quando você menos espera. É um susto a cada clique! Essa tecnologia ainda trás a SIM INEXPLICABLE EJECTION FOR NO ABSOLUTELY REASON, que faz seu cartão SIM não ser reconhecido pelo celular por motivo algum!

É ou não é o celular mais moderno que esse planeta setenta e cinco por cento coberto de água já conheceu?

Na sexta-feira, 10 de Junho de 2011, o n95 deu espaço ao Samsung Galaxy Ace, o qual pretendo resenhar aqui no blog em breve.

Esse n95 se encontra parado, descansando em seu leito eterno de papel e plástico. Não tenho planos pra me desfazer dele, pois está muito arranhado e com marcas de uso – não valeria muita coisa.

Não sou muito de me apegar a bens materiais a ponto de guardar algo que não uso para sempre. Já comprei dezenas de coisas e vendi grande parte delas para adquirir coisas novas. Sou, sim, eternamente grato pela companhia durante todo esse tempo.

Por mais que (por muitas vezes) tenha pensado em arremessá-lo na frente de um estouro de boiada, caro n95, eu lhe sou grato.

Quem diria, o OJ se tornando um blog das altas tecnologia das putaria.

Como ter uma parada cardíaca às 4 da manhã de uma quinta-feira

Levo comigo pela vida toda a certeza de que tudo que aconteceu de ruim no universo, aconteceu numa quinta-feira.

Estava eu deitado em minha cama, apreciando este prazer tão raro chamado “boa noite de sono”, quando acordo subitamente. Não costumo acordar de madrugada, portanto havia um motivo de extrema urgência. Cabia a mim desvendar o mistério.

Olhei no relógio e vi que era apenas 4h10 da manhã. Certamente não era hora de acordar.

Dei aquela balançada pra conferir o nível da bexiga e nada. Certamente não acordei porque estava apertado.

Vi minha gata dormindo com toda a fofura da galáxia. Certamente não precisava alimentá-la.

Então levantei, fui até a cozinha. Enchi um copo de Coca-Cola muito maior do que minha vontade – certamente não levantei pra tomar refrigerante – e não consegui tomar. Fui ao banheiro.

E foi aí que caguei tijolos. Não, não ao banheiro. Certamente eu não havia acordado para cagar tijolos.

Meu “escritório” fica a poucas dezenas de metros do banheiro (um passo), então tive que passar por ele. É ali que ficam meu computador, o notebook, o Xbox360 e todo tipo de parafernália eletrônica que uso para trabalhar ou me divertir. E escutei um barulho de algo funcionando. “Que seja o computador, então”, pensei.

Conferi o computador, desligado. Notebook, desligado também.

Foi quando o tempo parou.

Sabe quando você quer olhar pra uma coisa, mas sua mente faz força pra que você não veja? Se não havia nada ligado, só havia uma alternativa. Só um aparelho poderia estar ligado e fazendo barulho: o videogame.

Eu olhei no relógio, tentando descobrir a quanto tempo o console estava ligado pra medir os danos. Vi que eram quatro da manhã e o desespero tomou conta de mim.

Até sua tia Lourdes, que foi viciada em metanfetamina por 40 anos e hoje está internada em uma clínica e respira com ajuda de aparelhos, sabe que o grande problema do Xbox360 é o super aquecimento. Isso se deve à potência do console, que para funcionar precisa que pequenas fusões nucleares aconteçam, gerando energia.

Após quatro horas de jogatina incessante, seu Xbox360 estará mais quente que o núcleo do Sol.

Modelos mais antigos, como o meu, de 2008, são ainda MAIS suscetíveis ao DERRETIMENTO de seus componentes e a trágica morte. Isso é conhecido como “o anel vermelho da morte” ou “erro das três luzes vermelhas”.

Meu coração parou. Pensei ter perdido meu amado console para sempre. Ver as três luzes verdes ligadas foi um alívio, mas sabe-se lá o que aconteceria se eu não tivesse acordado no meio da noite, sem motivo algum? Eu fui dormir por volta de meia noite, o console já havia ficado, no mínimo, 4 horas ligado – coisa que nunca tinha feito, sou consciente.

E o mais engraçado é que eu não joguei nada além de pôquer no Facebook naquela noite.

Meu medo não era pelo console. Mesmo podendo comprar um videogame a cada passagem do cometa Halley, eu posso comprar outro. O problema de verdade seria outro…